Al-Qaeda congratula ataques e admite novas ameaças a França

Ligação dos Kouachi à Al-Qaeda da Península Arábica foi admitida por um dos irmãos numa entrevista telefónica antes de morrer. França reforça vigilância.

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Harath Al Nazari disse que “alguns filhos de França não respeitaram os profetas de Alá" DR

Um líder da Al-Qaeda na Península Arábica (AQPA), que junta as células da Arábia Saudita e do Iémen, felicitou o ataque terrorista à redacção do Charlie Hebdo e ameaçou França com novos atentados. Num vídeo de 5 minutos e 37 segundos, divulgado, sexta-feira, pelo SITE, empresa que monitoriza os movimentos jihadistas, Harath Al Nazari não reivindica directamente a autoria do ataque. Nas últimas horas, um responsável da AQPA não identificado veio reclamar a autoria do atentado, uma “vingança em honra” do profeta Maomé, como afirmou à AP.

“A liderança da AQAP dirigiu as operações e escolheu cuidadosamente o alvo em vingança à honra do profeta”, disse a fonte anónima, citada pela agência. França foi escolhida devido ao seu “papel óbvio na guerra contra o Islão”.

Já no vídeo, Harath Al Nazari disse que “alguns filhos de França não respeitaram os profetas de Alá, por isso, um grupo de soldados crentes de Alá marcharam contra eles e ensinaram-nos respeito e os limites da liberdade de expressão”. “Soldados que amam Alá e os seus mensageiros foram ao vosso encontro, não temem a morte e adoram o martírio em nome de Alá”, disse. Os franceses “não estarão em segurança enquanto combaterem Alá, o seu mensageiro e seus crentes”, refere Al Nazari, de acordo com informação veiculada pelo SITE.

A ligação dos irmãos Kouachi à Al-Qaeda da Península Arábica foi admitida pele elemento mais novo dos Kouachi, numa entrevista telefónica à BFM-TV. “Eu, Chérif Kouachi, fui enviado pela Al-Qaeda ao Iémen. Foi o xeque Anouar Al Awlaki que me financiou”, disse, acrescentando que a viagem se realizou antes da morte de Anouar Al Awlaki, na sequência de um ataque de um drone da CIA em 2011. Também o procurador de Paris, François Molins confirmou que Chérif esteve no Iémen nesse ano. “O inquérito deverá provar o financiamento deste ataque”, indicou, citado pelo Le Monde.

No Iémen, as autoridades lançaram uma investigação sobre as ligações possíveis entre a AQPA e os dois irmãos e suspeitam que além de Chérif também Saïd Kouachi terá combatido em nome da organização terrorista na província de Abyan.

Depois de 53 horas de grande tensão, o desfecho das operações policiais terminou com quatro mortos e quatro polícias feridos no assalto ao supermercado judeu, perpetrado por Amady Coulibaly, que admitiu estar coordenado com os irmãos Kouachi. A companheira de Coulibaly, Hayat Boummedienne, ainda está a ser procurada pela polícia. 

De acordo com o procurador de Paris, citado pelo Libération, os reféns foram mortos por Coulibaly quando entrou no supermercado e não durante a operação policial.

Quase ao mesmo tempo, na gráfica onde se refugiaram os presumíveis autores do atentado ao Charlie Hedbo, Chérif e Saïd Kouachi foram mortos pela polícia. O único refém que tinham em seu poder escapou ileso. Um outro funcionário, com 26 anos, conseguiu esconder-se noutra parte do edifício e foi dando informações às autoridades por telefone.

A justiça francesa anunciou, entretanto, que libertou Mourad Hamyd, cunhado de Chérif Kouachi, que se dirigiu à polícia depois de ver o seu nome a circular nas redes sociais e a ser identificado como um dos potenciais autores do atentado no Charlie Hebdo. Hamyd estava na escola quando o ataque aconteceu.

"Quando há 17 mortes significa que houve erros"
Manuel Valls, primeiro-ministro francês, reconheceu que com 17 mortos em três dias houve falhas na operação policial. “Há uma falha evidente. Quando há 17 mortes significa que houve erros”, disse à BFM-TV. O primeiro-ministro mostrou-se preocupado com as “centenas de pessoas que partem para a Síria ou para o Iraque onde são treinados no terrorismo e que depois regressam”.

Os Estados Unidos admitiram estar preocupados com a ameaça de novos atentados, “manifestações e outros actos de violência” e Barack Obama já disponibilizou a França apoio “para enfrentar este desafio”. O país “continua a enfrentar a ameaça do terrorismo e tem de permanecer vigilante”, disse. Obama sublinhou que França “é o mais antigo aliado dos EUA”.

“Lutamos ao vosso lado para defender os nossos valores, valores que partilhamos, valores universais que nos unem como amigos e aliados. Nas ruas de Paris, o mundo viu de novo o que defende o terrorismo. Não tem mais para oferecer do que ódio e sofrimento humano. Nós defendemos a liberdade e a esperança. É o que representa Paris para mundo e esse espírito vai permanecer para sempre”, afirmou.

Entrentanto, Bernard Cazeneuve,  ministro do Interior francês, anunciou que vai manter o plano de vigilância apertada, no seu nível mais elevado. Haverá um reforço de 320 militares ao dispositivo policial. Domingo na marcha contra o terrorismo são esperadas mais de um milhão de pessoas, inlcuindo dezenas de chefes de Estado.

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