Síria

Um filme sobre a guerra, no meio da guerra

Reuters/Bassam Khabieh
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Reuters/Bassam Khabieh

Em 2013, a capital da Síria foi alvo de um ataque com gás sarin - um gás venenoso que age sobre o sistema nervoso e pode ser mortal – que provocou perto de 1500 mortos. Humam Husari pegou na sua câmara e percorreu vários hospitais improvisados, captando imagens das vítimas e distribuindo esse mesmo registo por vários meios de comunicação internacionais. “Não estava a filmar porque sou videógrafo, mas sim porque era a única coisa que podia fazer pelas vítimas”, disse Husari à Reuters. “Enquanto se filma, não se consegue sentir nada, apenas o choque...Só depois, quando pensamos sobre aquilo que presenciámos, é que pensamos no quão grande e real e trágico foi aquilo que aconteceu. Não é fácil para mim ver as minhas filmagens”.

Humam Husari tem 30 anos e estudou cinema na Escola de Cinema de Brighton, em Inglaterra. A dura realidade acabou por incentivá-lo a realizar uma curta-metragem. Durante dois meses, escreveu, produziu e realizou um filme sobre o conflito na Síria, baseado em factos reais e com personagens que são pessoas que sofrem todos os dias com a guerra. O protagonista é um homem, que pertence ao grupo dos rebeldes, e perde a sua mulher e filho num ataque químico. O homem é impedido de enterrar a sua família e obrigado a defender a cidade de uma ofensiva do governo. “Temos de perceber como é que as pessoas foram levadas para dentro da guerra e obrigadas a fazer parte dela”, disse Husari. “Estou a contar uma história da qual faço parte. São personagens reais”.

Um dos actores do filme tem 70 anos. “Quero fazer parte do filme porque perdi treze membros da minha família...Quero que o mundo saiba aquilo por que passei”, contou a Husari, que apenas queria que ele fizesse de morto. Mohamed Demashki, estudante de gestão e bodybuilder professional, ficou com o papel principal. “Este filme tenta transmitir ao mundo que as pessoas que vivem aqui não são apenas combatentes, não são apenas terroristas. São pessoas com uma vida. A guerra é que as obriga a tornarem-se combatentes", disse Demashki.

A realização do filme foi uma experiência emocional importante para Husari e todos os participantes, que não são actores profissionais mas testemunhas ou vítimas dos atentados na Síria. "Fiquei impressionado com o quanto as pessoas foram capazes de expressar a sua tragédia e de cooperar comigo neste filme", disse o realizador. Fazer cinema numa cidade onde não há passagem livre de alimentos, pessoas e outros bens é difícil. Husari teve muitas vezes de improvisar: construiu o seu próprio equipamento de iluminação, por exemplo, mas conseguiu ter acesso a uma câmara de boa qualidade. "É irónico como numa área sitiada se podem encontrar as melhores câmaras", disse.

A guerra na Síria já fez centenas de milhares de mortos e deslocou 11 milhões de pessoas, cerca de metade da população antes do conflito no país. Em 2013, os investigadores da ONU denunciaram a utilização de gás sarin nos subúrbios da capital da Síria, Damasco. Os Estados Unidos acusaram o governo da Síria de realizar o ataque mas Damasco negou qualquer responsabilidade e culpou os rebeldes.

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