TV por cabo teve crescimento espectacular em dez anos

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A SIC Notícias mantém-se na liderança dos canais por cabo desde 2001 DR

A televisão por cabo em Portugal faz hoje dez anos. A primeira emissão experimental aconteceu em Matosinhos a 27 de Julho de 1994. No final do ano passado, o serviço por cabo estava presente em 27 por cento dos lares portugueses, segundo dados da Anacom-Autoridade Nacional de Comunicações.

Alguns dias depois do teste realizado na cidade nortenha, a experiência foi repetida em Lisboa, num prédio na Avenida Afonso Costa, na zona do Areeiro. Mas a comercialização e distribuição do serviço só começou em Outubro.

O então presidente da TV Cabo, José Graça Bau, contava nessa altura ao PÚBLICO que "o arranque em Matosinhos deveu-se ao interesse e colaboração dispensada pela autarquia em sintonia com a EDP e os TLP". "É importante notar que o que estamos a fazer é a primeira aplicação na Europa da mais moderna tecnologia americana neste domínio e mesmo nos EUA são poucas, para já, as instalações que a utilizam", realçava a "A Capital".

O arranque do serviço da TV Cabo deu-se a 1 de Outubro de 1994, com o envio de equipas comerciais para o terreno. Na altura consistia em trinta canais, disponíveis nalgumas zonas de Lisboa, Braga e Matosinhos. Cobria cerca de 30 mil lares e pretendia chegar a 1,5 milhões no ano 2000. Já então se previa que viesse a chegar aos 40 canais. A subscrição do serviço custava 15 contos, e a assinatura mensal 3000 escudos. Hoje a empresa, integrada no grupo PT, está presente um pouco por todo o país e reclama uma quota de mercado de 84 por cento. O seu Serviço Clássico, com 44 canais, custa 20,45 euros por mês.

Também em Outubro de 1994 começava a actividade a Bragatel, um pequeno operador que iniciou o seu serviço nalgumas zonas da cidade. Em 1996 surgiu a Cabovisão, que opera essencialmente no Oeste do Algarve, Alto Alentejo, península de Setúbal, Beira Interior, zona de Leiria e distritos de Aveiro e do Porto. E em Outubro de 2000 foi a vez da TVTel, presente na área metropolitana do Porto.

Em 1994, as vantagens apresentadas sobre as antenas parabólicas colectivas (então bastante comuns) eram a segurança na continuidade das emissões, a qualidade da imagem e o som estéreo. Além de não ser necessário aparelho descodificador nem antena parabólica, o que tornava menos dispendiosa a instalação do sistema.

A TV dos homens maduros e abastados

Nestes dez anos, apareceram canais nacionais no cabo, alguns codificados e a que só se tem acesso mediante uma assinatura mensal específica. O pioneiro foi a Sport TV, em 16 de Setembro de 1998, o primeiro canal português no cabo, de acesso condicionado mediante pagamento. Seguiram-se-lhe o CNL, em 15 de Setembro de 1999, que depois deu origem à SIC Notícias em 8 de Janeiro de 2001.

Em termos de números, a evolução do serviço de cabo no país tem sido avassaladora. De 615,3 mil indivíduos que em 1998 a Marktest estimava residirem em lares com TV por cabo em Portugal continental, passou-se para mais de quatro milhões este ano. Os dados da Anacom registam por seu lado 1,33 milhões de lares com cabo no final do ano passado, o que corresponde a 27 por cento do total. Metade dos clientes do cabo residiam então na região de Lisboa. Era no entanto na Madeira que a penetração do serviço atingia o valor mais elevado: chegava a 60 por cento dos lares, contra 53 por cento na região de Lisboa.

As audiências da televisão por cabo, que só começaram a ser medidas pela Marktest em Setembro de 1998, tiveram desde então uma evolução fortíssima. De um "share" de 2,8 por cento em 1999, correspondente a uma média diária de 35,4 mil espectadores, passaram para 11,3 por cento no primeiro semestre deste ano, o que representa 157,5 mil espectadores/dia.

Uma caracterização sócio-demográfica dos espectadores do cabo, feita pelo Media Planing Group com base em dados da Marktest, mostra que no primeiro semestre do ano as classes A/B e C1 estavam sobrerrepresentadas, correspondendo a 29,6 por cento e 32,1 por cento, respectivamente, contra 17,4 e 29,4 por cento no conjunto da população de Portugal continental.

O serviço de cabo era mais visto entre os homens do que entre as mulheres. Eles representavam 58,8 por cento dos telespectadores, contra 48,2 por cento da população no Continente. Por idades, os jovens até aos 14 anos e os adultos dos 35 aos 54 anos tinham maior peso entre os telespectadores do cabo do que no conjunto da população.

Quanto ao "ranking" dos canais por cabo, em 1999 e 2000 foi liderado pelo Hollywood (cinema), mas em 2001 foi a SIC Notícias que assumiu a liderança, que mantém ininterruptamente desde então. Panda (animação infantil), Hollywood, e GNT (canal da Globo para Portugal) aparecem por esta ordem nos lugares seguintes entre 2001 e o primeiro semestre deste ano.

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