Varina de Viana recebe encomendas por SMS e promove peixe nas redes sociais

Decidiu apostar na comercialização de peixe há quatro anos, quando ficou desempregada.

Foto

Já lá vai o tempo dos carrinhos carregados de peixe e das mulheres a apregoar a frescura do seu produto pelas ruas, agora a moderna carrinha climatizada de Joana Pinheiral e as encomendas por SMS garantem a continuidade do negócio.

"Isso agora já não se usa, porque é preciso ter higiene. Sou a varina dos novos tempos. Vendo através do telemóvel. Já tenho os meus clientes a quem entrego o peixe arranjado, tal como as pessoas querem", afirmou empresária.

Filha de um dos mais antigos pescadores de Viana do Castelo, esta varina do século XXI, aproveita ainda as redes sociais para divulgar o peixe, apesar de admitir que as vendas através do Facebook, "não são o forte", do negócio que conhece desde sempre.

"Cresci com o mar e a lidar com a arte, no Sempre em frente, o barco do meu pai".

Decidiu apostar na comercialização de peixe há quatro anos, quando ficou desempregada, após o encerramento de uma multinacional de produção de cablagens.

Estava grávida e diz ter sentido "o chão fugir-lhe debaixo dos pés" mas decidiu virar-se "para o mar", de quem sempre gostou.

Candidatou-se a fundos comunitários que possibilitaram a compra de uma carrinha, totalmente equipada para a comercialização de pescado, e certificada para operar até em Espanha.

Os dias de Joana Guia Pinheiral começam ainda de madrugada, nas lotas, para arranjar "o melhor peixe, ao melhor preço" que faz chegar aos mais de 300 clientes que tem, sobretudo entre Viana do Castelo e Esposende, mas vai "até onde for preciso, desde que a encomenda compense".

"Já cheguei a ir a Amares levar polvo, carapau e pescada, porque me fizeram uma boa encomenda. Tenho lá alguns restaurantes a quem ligo. Quando pedem, vou lá deixar o peixe fresquinho e arranjado", afirmou.

Mal acaba a compra do pescado, e tem a carrinha carregada, Joana começa a tarefa mais importante do dia. Enviar as mensagens aos clientes regulares. Quando abandona a lota, para que o dia "corra bem, a mercadoria já tem que estar quase toda vendida".

"Olá. Hoje tenho polvo pequeno a 5 euros, cavala a 2,5 euros, tamboril a 7,5 euros. Se quiserem alguma coisa. Obrigada", escreveu na mensagem aos clientes.

Serve sobretudo hotéis e restaurantes, mas também vai vender a fábricas, sobretudo em Esposende e Barcelos.

"Conheço as patroas e, mal saio da lota, ligo a dizer o peixe que tenho, e para que preços. A patroa passa palavra às funcionárias. Se estiverem interessadas vou lá deixar as encomendas", disse, orgulhosa com a rede de clientes que foi conquistando, "de SMS em SMS".

Está satisfeita com a aposta que iniciou há quatro anos, sobretudo pela "liberdade" que lhe permite.

"É um negócio incerto mas ninguém manda em mim, e só faço o que eu quero. Ninguém me chateia, estou muito mais livre e trabalho numa coisa que gosto", sublinhou, apesar de não ter "um salário certo ao fim do mês".

"Só ganho quando vendo e nesta altura o negócio está fraco porque há pouco peixe e caro", explicou.

Para o futuro a ambição desta varina passa por ampliar o negócio mas com "cautelas".

"Gostava de ampliar a frota mas neste momento não dá. O negócio não é como antigamente. Antes dava mais. Montar uma peixaria também gostava, mas obriga uma pessoa a ficar ali todos os dias. Com este negócio ando por todo o lado", disse.

Apesar da tradição piscatória da cidade, hoje são apenas três as varinas licenciadas pela Câmara Municipal, que continuam a empurrar os carrinhos de mão e a apregoar a frescura do peixe que carregam.

Sugerir correcção
Comentar