Preço da água põe em perigo a cultura do milho em Alqueva

O calor do Alentejo obriga a gastar muita água para produzir milho. O seu elevado custo começa a ser uma preocupação para os produtores.

A produção de milho nos novos blocos do perímetro de rega de Alqueva poderá estar em causa se as taxas que estão a ser aplicadas desde 2010 não sofrerem uma redução, entende a Associação Nacional de Produtores de Milho e Sorgo (Anpromis).

O presidente desta associação,  Luís Vasconcellos e Souza, afirmou ao PÚBLICO que vai ser "difícil" manter a produção de milho no Alqueva nos anos em que os preços deste cereal se apresentem baixos. E explica porquê: "Contrariamente a algumas zonas do país" o preço da água em Alqueva "vem onerar a cultura de milho".

A solução, acrescenta, terá de passar por "conjugar o potencial de Alqueva com o potencial económico resultante da produção de milho" no novo regadio. Isto porque a cultura consome em média, sob o efeito das elevadas amplitudes térmicas características da região alentejana, entre 7 e 8 metros cúbicos de água por hectare.

Se não houver uma reformulação do tarifário aprovado pelo Ministério da Agricultura em 2010, o consumo de água  na produção de milho sofrerá uma forte redução e, nessas condições, "será difícil manter" os preços da água, antecipa Vasconcellos e Souza. Este empresário ainda admite que a viabilização das áreas plantadas "pode passar por produzir mais barato e eficiente mas dificilmente será possível reduzir o consumo de água".

Para superar o cepticismo dos agricultores que pretendiam produzir no regadio do Alqueva,  o antigo ministro da Agricultura António Serrano anunciou em Abril de 2010 que o preço da água no novo regadio ia ser controlado por um período de 6 anos. O tarifário previsto no despacho 9000/2010, estabelecia que os agricultores pagariam no primeiro ano apenas 30% do preço real da água, o qual seria aumentado progressivamente. O custo final varia entre os 0,42 cêntimos e os 0,58 cêntimos por metro cúbico, valores que Vasconcellos e Souza considera "caros" em anos de preços baixos no mercado de cereais.

Até final de Julho deste ano a produção de milho nos blocos de rega em Alqueva aumentou em relação ao ano anterior, atingindo as 100 mil toneladas, o que representa cerca de um sexto da produção nacional deste cereal. A área semeada passou dos 2700 hectares em 2011 para os quase 6000 hectares em 2013.

Com as reservas colocadas ao futuro da produção de milho, a cultura que se tem revelado a mais promissora em Portugal, a seguir à produção de azeite e vinho, poderá colocar em causa o objectivo inicialmente previsto pela Anpromis ao admitir que Alqueva poderia tornar o país auto-suficiente na produção de milho em grão.

 

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