O escritor, jornalista e poeta Manuel António Pina vai receber, a título póstumo, a Medalha Municipal de Honra da Cidade. A proposta, do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, já terá sido consensualizada com as outras forças políticas representadas no executivo municipal e vai ser votada isoladamente, e não, como é habitual, com as restantes medalhas que a autarquia irá atribuir este ano. Tudo para que a distinção possa ser entregue ainda este mês.

No ano passado, a Câmara do Porto quebrou a tradição iniciada pelo anterior autarca, Rui Rio, de associar a entrega das medalhas municipais à comemoração do 25 de Abril de 1974 e escolheu o 9 de Julho como a data para distribuir as distinções da cidade (e que incluiu o próprio Rio), associando o evento à entrada das tropas de D. Pedro IV na cidade, a 9 de Julho de 1832, durante as Guerras Liberais. Este ano ainda não foi anunciado se a data será a mesma, mas há já uma diferença: a Medalha Municipal de Honra da Cidade deverá ser entregue já no próximo dia 19 de Fevereiro.

Nessa data realiza-se uma sessão das Quintas de Leitura evocativa de Manuel António Pina, na qual Rui Moreira deverá declamar um poema do autor, e a câmara “entendeu que fazia sentido antecipar a entrega desta medalha para esta data”, explicou ao PÚBLICO fonte da assessoria de imprensa do município. A mesma fonte explica que “já esta consensualizado” com as restantes forças políticas que esta medalha seria, este ano, atribuída a Pina, e que os partidos da oposição, PSD e CDU, concordaram, também, com a antecipação da entrega.

A proposta assinada por Rui Moreira especifica que esta medalha “se destina a galardoar quem tenha prestado à cidade do Porto serviços ou concedido benefícios de excepcional relevância ou se tenha distinguido, pelo seu valor, em qualquer ramo da actividade humana”.

Manuel António Pina nasceu no Sabugal, em 1943, mas mudou-se para o Porto apenas com 17 anos e foi aí que exerceu a sua actividade profissional. Colaborador de vários jornais, mas com uma ligação umbilical ao Jornal de Notícias, onde publicou, nos anos que antecederam a sua morte, uma crónica diária, deixou uma vasta obra, que se estende da poesia à literatura infantil. Pelo seu trabalho foi várias vezes distinguido, tendo recebido, entre outros, o Prémio de Poesia da Casa da Imprensa (1978), o Grande Prémio Gulbenkian de Literatura para crianças e Jovens (1987), o Prémio da Crónica da Casa da Imprensa (2004), o Prémio Bissaya Barreto da Literatura para a Infância (2010) e o Prémio Camões (2011). A cidade que adoptou como sua já o agraciara, em 2001, com a Medalha de Ouro de Mérito da Câmara do Porto. Pina morreu no Porto a 19 de Outubro de 2012.

A curta biografia que acompanha a proposta de atribuição da Medalha de Honra refere que o escritor “deixou uma voz insubmissa e questionadora, crítica e corajosa e o exemplo de uma intervenção pautada por princípios éticos, na defesa intransigente dos valores da liberdade, da democracia e da justiça social”.