Paul do Boquilobo tenta manter galardão de Reserva da Biosfera

Foi entregue esta semana na UNESCO o documento que prova a adaptação às novas exigências da classificação, diferentes das que vigoravam em 1981, quando a reserva foi distinguida.

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A maior colónia de garças da Península Ibérica está no Boquilobo Paulo Ricca

O Paul do Boquilobo, primeira Reserva da Biosfera reconhecida pela UNESCO em Portugal, concluiu esta semana o processo para manter o galardão, apesar da poluição do rio Almonda, que atravessa aquela área protegida partilhada entre os concelhos da Golegã e de Torres Novas.

O presidente da reserva, Mário Antunes, que é também presidente da organização não-governamental de ambiente ONGATejo – líder do conselho executivo que desde 2014 gere esta Reserva da Biosfera no distrito de Santarém –, disse nesta quinta-feira à Lusa que foi entregue esta semana na Comissão Nacional da UNESCO o documento que atesta a adaptação às novas exigências do programa MaB (Homem e Biosfera), bem diferentes das que vigoravam em 1981, quando a reserva foi distinguida.

Em 2013, a UNESCO recomendou que a Reserva da Biosfera do Paul do Boquilobo passasse a ter um órgão próprio – até aqui era gerida pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) –, que integrasse os agentes locais na gestão e que os seus limites (até agora coincidentes com os da Reserva Natural) abrangessem outras componentes para além da conservação da natureza, como a valorização dos recursos endógenos, a investigação, a sensibilização ambiental, o desenvolvimento sustentável.

Mário Antunes afirmou que as duas primeiras recomendações foram satisfeitas em 2014 com a criação do novo modelo de gestão "inovador" – com um conselho executivo que integra a ONGATejo, o ICNF e os municípios da Golegã e de Torres Novas, e uma comissão de acompanhamento onde têm assento os agentes económicos mais relevantes no território (52 entidades) –, tendo sido agora concluída a terceira.

Esta permitiu o "acréscimo significativo" da área abrangida, que passou dos 550 hectares da reserva natural para os 5900 hectares. A alteração acrescenta à zona da conservação (nuclear, destinada à preservação da paisagem, ecossistemas e espécies) uma zona de tampão e outra de transição, nas quais podem ser cumpridas as funções de desenvolvimento sustentável e de plataforma de investigação, monitorização, educação e sensibilização ambiental, critérios actualmente exigidos para classificação como Reserva da Biosfera.

"De uma única actividade passamos para oito (desde o turismo, a agricultura, a pesca, os serviços), de uma área sem residentes passamos para uma população de 8400 habitantes, de uma freguesia passamos a abranger cinco e de um concelho passamos para dois", disse. Para Mário Antunes, "esta é uma oportunidade única de valorizar e dar visibilidade internacional à região, incorporando no território as mais-valias endógenas aliadas à sustentabilidade".

O conselho executivo está a ultimar um site e a criar uma newsletter para divulgação de todas as actividades e iniciativas nas várias vertentes, estando a trabalhar em redes de cooperação e a identificar oportunidades de investimento e de candidaturas a fundos comunitários.

A integração dos agentes locais permite igualmente direccionar eventuais investimentos para que se integrem nos parâmetros de uma reserva da biosfera, um "galardão de qualidade" que acrescenta valor à região e aos produtos a ela associados.

"Este processo culmina no reconhecimento das potencialidades, tradições e património dos concelhos de Golegã e Torres Novas", disse Mário Antunes, referindo a necessidade de "compatibilização de acções dos vários actores locais numa estratégia única de desenvolvimento", que permitirá colocar este território "no circuito internacional das Reservas da Biosfera e do programa MaB da UNESCO".

O Paul do Boquilobo é uma zona húmida com elevada biodiversidade, com destaque para uma importante colónia de garças e de colhereiros, sendo ponto importante nas migrações outonais de aves. Mas a reserva é atravessada pelo rio Almonda, que é ainda alvo de descargas ilegais sobretudo no concelho de Torres Novas.

Como o PÚBLICO noticiou em Julho, quando chega à área protegida, o Almonda é uma massa de água pestilenta, oleosa, verde e esbranquiçada. Na altura, o presidente da Câmara de Torres Novas, Pedro Ferreira, disse ao PÚBLICO que não queria “correr o risco de esse santuário ambiental se transformar noutra coisa qualquer”. Apesar da entrada em funcionamento de novas estações de tratamento de águas residuais naquela zona, a poluição persiste.

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