Nova empresa de empreendedorismo social espera receber “volunturistas” no Porto

Criada por dois jovens empreendedores, a Hearts & Journeys promete que, por cada pacote turístico vendido, irá oferecer um outro a um jovem carenciado que nunca tenha viajado.

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As últimas cheias no Porto aconteceram em 2006 Paulo Pimenta/Arquivo

Henrique Vasconcelos, 26 anos, tinha um plano. Queria criar um projecto de turismo voluntário, a partir do Porto, e precisava de ajuda. Nas redes sociais conheceu Rosário Calheiros, 28 anos, que abraçou o projecto como se também tivesse nascido dela. Andaram um ano a preparar o Hearts & Journeys, ganharam prémios de empreendedorismo e de empreendedorismo social, e estão agora prontos para receber os primeiros interessados em passar uma semana a conhecer o Porto, enquanto fazem algum trabalho voluntário.

Para já, a oferta da Hearts & Journeys resume-se a um pacote, para ser gozado de 2 a 8 de Março (www.heartsandjourneys.com). Durante seis noites e sete dias, e a partir de 329 euros (voos não incluídos), os interessados são convidados a dividir os seus dias em várias actividades. De manhã, todas as manhãs, fazem trabalho voluntário no Cantinho das Aromáticas. À tarde, durante duas ou três horas, aproveitam as visitas guiadas organizadas por Rosário e Henrique que os irão levar da Ribeira a Serralves, da Casa da Música às caves de Vila Nova de Gaia. O resto do tempo é livre.

“Queremos fazer a diferença nesta área do empreendedorismo social e ajudar a acabar com a desigualdade no acesso ao turismo”, explica Rosário.

Os preços incluem estadia, transporte para o serviço de voluntariado, almoço, os percursos turísticos da tarde e algumas viagens de metro.

A forma como os dois empresários sociais pretendem fazê-lo está já decidida – por cada pacote vendido, Rosário e Henrique prometem oferecer uma experiência turística a um jovem carenciado, que nunca tenha viajado. “Por enquanto, será aqui no Porto, com um programa assente no que for o sonho do jovem, do que ele quiser fazer”, explica Rosário. “Mas, mais tarde, queremos alargar a oferta de destinos, talvez incluir o interior do país”, acrescenta Henrique.

Como praticamente tudo no projecto, os jovens serão seleccionados através de um parceiro da empresa – neste caso, uma associação que trabalha no bairro da Cova da Moura, na Amadora. Mais tarde, Rosário e Henrique querem alargar o leque de parceiros, para chegarem a mais jovens. E, daqui a poucos meses, esperam ter mais pacotes de oferta, com outras possibilidades de voluntariado.

“Começámos com o Cantinho das Aromáticas, porque fizemos voluntariado lá e gostámos muito”, diz Rosário. “Os donos são muito acessíveis e quisemos dar a conhecer este sítio, ao mesmo tempo que promovemos uma maior sensibilidade ambiental”, continua Henrique. “Mas estamos a trabalhar noutras possibilidades de voluntariado, seja com aulas de surf, limpeza das praias, intervenção na floresta ou reabilitação”, remata Rosário.

Encontrar parceiros que acreditassem no empreendedorismo social foi essencial para dar vida ao projecto, permitindo criar um pacote a preços acessíveis. A outra foi “esmagar as margens de lucro”, explica Rosário. “Nós funcionamos como empresa, mas o nosso objectivo é social. A nossa margem de lucro é mesmo muito pequena”, garante Henrique.

O público-alvo para os dois amigos é o britânico, porque é sobretudo lá que os estudos consultados por ambos dizem estar os “volunturistas” – pessoas que querem fazer turismo, integrado numa experiência de voluntariado. E foi de lá que já chegaram algumas perguntas sobre o projecto, mas não só. “Só lançámos o projecto há dias e ainda não tivemos nenhuma reserva, mas já recebemos bastantes pedidos de informação do Brasil, da Grécia, do Reino Unido e também de Portugal, claro”, diz Rosário.

Os responsáveis da Hearts & Journeys sabem que o percurso não será fácil, mas estão convencidos de que os clientes vão aparecer. O lucro, garante, será para todos. “Queremos mostrar locais diferentes, mesmo ao nível do comércio. É nossa intenção criar impactos através da estadia, levando também receita aos pequenos comerciantes, descentralizando a oferta turística”, explica Henrique.
 
 

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