Nem a redução do IVA une os autarcas quando se fala do Fundo de Apoio Municipal

Conselho Metropolitano do Porto não vai agir judicialmente contra as regras do fundo, que dividem os vários autarcas

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A dívida total das autarquias que está contabilizada é hoje de 7,9 mil milhões de euros Andrea Comas/Reuters

Os autarcas da Área Metropolitana do Porto (AMP) estão divididos quanto à avaliação que fazem do Fundo de Apoio Municipal (FAM) e nem o alegado compromisso governamental de reduzir o IVA pago pelas autarquias pela electricidade na via pública parece uni-los. O tema marcou o encontro do Conselho Municipal do Porto (CMdP) que, em dia de chuva intensa, se mudou para a Fábrica de Santo Thyrso. Para já, só está decidido que o CMdP não vai agir judicialmente contra as regras do FAM.

O assunto chegou à agenda do CMdP por proposta do anfitrião do encontro, o presidente socialista da câmara de Santo Tirso, Joaquim Couto. “Em que medida é que é possível que alguns de nós se juntassem para contestar o FAM em conjunto ou per si”, questionou o autarca, frisando que não concorda com os termos do acordo assumido pela Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) e o Governo relativamente a, este fundo.

As respostas de alguns dos autarcas presentes foram claras quanto à impossibilidade de, pelo menos de forma conjunta, os 17 municípios da AMP se unirem nesse sentido. Apesar de a vice-presidente da Câmara de Arouca, Margarida Belém, ter explicado que este município já avançou, em Dezembro, e de forma individual, com acções “de impugnação do FAM” e que pediu também a fiscalização do Provedor de Justiça, mostrando-se disponível para “facultar todos os elementos que estiveram na base” destes processos, apenas o vice-presidente de Gaia, Patrocínio Azevedo (PS), disse que o seu município “estava disponível para agir do ponto de vista judicial, contra este fundo”.

O socialista que preside à Câmara de Valongo, José Manuel Ribeiro, defendeu que “a via judicial poderá não ser, às vezes, a melhor opção” e levou para a discussão um novo ponto que parecia ter mais potencial de unir os autarcas: “O que acho é que enquanto Área Metropolitana do Porto devemos dizer: o Governo da República assumiu compromissos com as autarquias de redução do IVA, nomeadamente na iluminação pública, e havia uma expectativa, assente no princípio da boa-fé, de que, assim, municípios iriam ter mais recursos financeiros. Porque estamos a falar de milhões de euros só na AMP”.

O novo desafio lançado aos representantes dos 17 municípios voltou a não conseguir colocar os autarcas todos do mesmo lado. O social-democrata Joaquim Pinto Moreira, presidente da Câmara de Espinho, lembrou aos colegas que “o FAM foi solicitado pelos presidentes dos municípios” e argumentou que “não é líquido que [a redução do IVA] seja um ponto de exigência para o Governo”.

A autarca de Vila do Conde, Elisa Ferraz (PS), irritou-se com o colega, defendendo que a redução de IVA na electricidade pública, nas refeições e transportes escolares, foi “uma questão fulcral” do acordo da ANMP com o Governo e garantindo que o mesmo está “plasmado” no documento.

No acordo de 8 de Julho de 2014, assinado pela ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, pelo ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional, Poiares Maduro, e pelo presidente da ANMP, Manuel Machado, o 25.º estabelece: “No âmbito da reforma da fiscalidade verde serão considerados incentivos fiscais à eficiência energética dos Municípios e entre as alternativas a considerar estará o IVA da iluminação pública”.

O líder do CMdP, o social-democrata Hermínio Loureiro, lembrou que nenhum dos 17 municípios da AMP irá necessitar de recorrer ao fundo, e afirmou: “Não desejo a nenhum município que tenha de recorrer ao FAM e cumprir o que ele diz, porque tem medidas violentíssimas que afectarão a vida dos municípios”. Após a reunião, o autarca de Oliveira de Azeméis garantiu que o CMdP vai “aguardar com serenidade do desfecho” dos vários processos que correm em tribunal e não vai agir, mas defendeu que “era um sinal importante que o Governo dava aos municípios, baixar o IVA em matérias importantes”.

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