Matagal às portas de Vila Franca de Xira ameaça moradores e empresas

Vasta área situada entre a cidade e o Tejo está há muito abandonada por um fundo imobiliário ligado à Caixa Geral de Depósitos. Vizinhos queixam-se.

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A situação é bem visível da Ponte Marechal Carmona, mas ainda nada foi feito para a limpeza daquela área Daniel Rocha

O mato denso e os canaviais com mais de quatro metros de altura que preenchem boa parte dos cerca de 20 hectares da frente ribeirinha de Vila Franca de Xira, numa zona para onde chegou a estar prevista uma grande urbanização conhecida por “Nova Vila Franca” estão a gerar muita preocupação entre os moradores da zona e os autarcas locais.

Para a Junta de Freguesia de Vila Franca aquele espaço é hoje uma “autêntica selva” e urge tomar medidas para a sua limpeza. Moradores da zona temem o aparecimento de algum foco de incêndio que seria muito difícil de travar. E a câmara local assegura que já notificou os proprietários (o fundo imobiliário Fundolis, ligado ao grupo Caixa Geral de Depósitos e à empresa Obriverca) para que intervenham no local. A situação é bem visível da Ponte Marechal Carmona, mas ainda nada foi feito para a limpeza daquela área.

Edgar Ferreira Gomes reside, há muitos anos, na Rua da Maré do Cais de Povos, zona onde existem vários armazéns e duas ou três residências, situadas junto à linha-férrea (Linha do Norte). Trata-se de uma área de acesso difícil, só possível por uma passagem pedonal superior existente junto ao supermercado Aldi e por uma via que liga à estrada entre a rotunda de Povos à zona do Jardim Municipal Constantino Palha e ao pavilhão da União Vilafranquense.

Os armazéns aí existentes estão desocupados, na sua maior parte, e funciona ali, também, a sede do Grupo Motard Mentes Perigosas. Do outro lado da linha, a escassos metros, há dois supermercados, um posto de abastecimento de combustíveis e o concessionário de uma marca de automóveis. 

“Os terrenos que rodeiam a Rua da Maré, antiga Rua do Cais de Povos, estão todos cheios de mato, cheios de canaviais. Tenho dado conhecimento da situação à junta, à câmara e ao Serviço Municipal de Protecção Civil. A única resposta que tive foi da junta, que me enviou uma fotocópia do ofício que enviou para o Fundolis”, diz Edgar Gomes. O mesmo morador acrescenta que acompanhou representantes deste fundo imobiliário (proprietário dos terrenos) numa visita ao local, no final de Junho, mas que desde então nada foi feito.

Estiveram então no local um engenheiro e duas outras representantes do fundo. “Comecei por lhes mostrar que quem vem da Rua da Maré para entrar na estrada que vem da rotunda, para o lado direito não vê nada. Há três semanas não fui ali cortado por um camião porque a Senhora de Fátima me ajudou. A resposta que me deram foi que os terrenos são assim e vão ser assim”, observou o morador desta zona do antigo Cais de Povos, que interveio na última sessão da assembleia municipal, perguntando se não há uma lei que obrigue os proprietários a limpar o local.

“Mostrei-lhes as canas que tapam a minha janela. Lá se convenceram que aquela área é deles e disseram que iam estudar o assunto, para depois fazerem uma pequena limpeza de 3 ou 4 metros. Alguém me explica quantos metros são obrigados a limpar? Disseram-me que serão 50 metros. Vivo sobressaltado, porque os fogos não acontecem só no Norte e no centro. Também podem acontecer em Vila Franca e, na casa em que eu moro, com 200 anos, o que é que não seria”, acrescentou Edgar Gomes. A zona em causa encontra-se  também a curta distância de um estabelecimento hoteleiro, o Hotel Lezíria Parque. “Quem é que é o responsável? A câmara não tem uma posição sobre isto?”, questionou.

Fernando Paulo Ferreira, vice-presidente da Câmara de Vila Franca e responsável pelo pelouro do Ambiente, observou que a parte pública daquela zona, que corresponde à faixa existente junto aos edifícios de habitação e ao hotel e entre a rotunda e a zona industrial está desmatada. “Lá mais para a frente e a pedido do grupo motard também se fez uma desmatação, por razões de segurança rodoviária. Mas todo esse terreno que refere é particular. Há notificações que são feitas aos particulares. São espaços privados e compete aos particulares fazerem a limpeza. A parte pública é aquela onde intervimos”, explicou o autarca do PS, admitindo que haja algumas faixas de terreno onde a vegetação facilmente entre na variante. “É uma questão que avaliaremos com o senhor presidente da junta, mas a câmara e a junta não podem intervir nesse terreno particular”, concluiu.

Também Mário Calado, presidente da Junta de Vila Franca, se mostra muito preocupado com esta situação. Em declarações ao PÚBLICO, o autarca da CDU considera que o terreno da “Nova Vila Franca” é hoje “uma autêntica selva”, que pode gerar problemas complicados. “Vêm aqui pessoas milhentas vezes reclamar [à junta] porque ficaram no meio de uma selva, com aqueles terrenos ao abandono”, lamenta.     

O PÚBLICO tentou, ao longo do último mês, obter mais esclarecimentos da Direcção de Comunicação e Marketing da Caixa Geral de Depósitos mais ainda não teve resposta.                      
      

 

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