ISCTE quer ter uma das 20 melhores escolas de turismo do mundo

O projecto, que inclui a construção de dois hotéis na Cidade Universitária, em Lisboa, é contestado pelo PCP, que entende que o ensino não deve ser colocado "ao serviço da hotelaria". Também dentro do ISCTE há vozes contra.

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O terreno do Instituto da Mobilidade e dos Transportes foi comprado pelo ISCTE há quatro anos GUILHERME MARQUE

Depois de vários adiamentos, o Pedido de Informação Prévia do ISCTE para a construção de dois hotéis na Avenida das Forças Armadas foi aprovado nesta quarta-feira pela Câmara de Lisboa, com a oposição do PCP. A ambição deste projecto, que não é consensual dentro do Instituto Universitário de Lisboa, é criar em Portugal uma “escola universitária de referência mundial” na área do turismo.

Isso mesmo é dito numa informação escrita que o reitor do ISCTE enviou à câmara, depois de se terem feito ouvir na praça pública várias vozes contra a operação urbanística proposta. Além de duas unidades hoteleiras, uma de três e outra de cinco estrelas, o projecto contempla a construção de um edifício destinado a “investigação e formação”, “equipado com laboratórios e cozinhas de topo”. Tudo isto no terreno onde está hoje instalada a sede do Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT).   

Nessa informação, à qual o PÚBLICO teve acesso, o reitor aponta o turismo como “um dos sectores nevrálgicos da nossa economia” e sublinha que “o ensino nesta área é quase na sua totalidade desenvolvido em escolas profissionais e politécnicas, não tendo Portugal nenhuma escola universitária de referência mundial”.

“Não há nenhuma razão inteligível para que Portugal não tenha uma escola nesta área que se afirme entre as principais escolas mundiais na formação pós-graduada”, acrescenta Luís Reto. Para o reitor, a dimensão do sector do turismo e os recursos universitários existentes “exigem que tenhamos uma escola entre as 20 escolas mundiais neste sector, atraindo estudantes internacionais e, em particular, dos países de expressão portuguesa”.

Além disso, Luís Reto diz que na gastronomia, uma “área complementar à gestão de hotelaria”, “Portugal ainda apresenta mais carências de formação do que na área do Turismo”. Por isso, justifica, o projecto apresentado pelo instituto “prevê a formação em gastronomia, a nível internacional, tendo o ISCTE já registado a marca Lisbon Culinary Center para esse efeito”.

Quanto aos hotéis, o reitor explica que eles permitirão um “treino intensivo dos alunos” e acrescenta que um deles (o de três estrelas, que é referido no projecto como hotel/residência de estudantes) terá “preços acessíveis para professores e investigadores, visitantes, alunos Erasmus e para a formação de executivos internacionais”. Segundo Luís Reto, estes equipamentos serão entregues, por “contratualização”, a um “grupo hoteleiro que ganhar o concurso público internacional”. 

Lembrando que o terreno actualmente ocupado pelo IMT foi adquirido há quatro anos “com receita própria” do ISCTE, o reitor admite que este “não tem qualquer possibilidade financeira para construir o novo edifício [o de “investigação e formação”] com meios próprios, pelo que irá alienar parte do património adquirido por permuta de construção do novo edifício escolar”.

Os argumentos de Luís Reto parecem ter convencido a maior parte dos eleitos da câmara. Entre eles o vereador António Prôa, que há duas semanas tinha dito ao PÚBLICO que via como “muito estranha” a ideia de uma instituição de ensino superior querer dedicar-se ao negócio da hotelaria.

Esta quarta-feira, depois de se ter reunido com o reitor do ISCTE e de ter analisado as informações por ele enviadas, o autarca do PSD estava já rendido ao projecto. “Parece-nos uma boa iniciativa, que qualifica a cidade, e um bom contributo para o país e para elevar a sua oferta turística”, sustenta António Prôa, considerando que está em causa “um projecto de excelência na área da hotelaria”.  

Quem não ficou convencido foi o vereador Carlos Moura. “Não achamos que o ensino deva ser colocado ao serviço da hotelaria”, diz o autarca do PCP, manifestando-se também contra o facto de os novos hotéis irem surgir “dentro da Cidade Universitária, um espaço que deve ser dedicado ao ensino superior”.

No próprio ISCTE este projecto não é pacífico, como se percebe nos artigos de opinião de Rui Pena Pires, professor, e de Nuno David e Margarida Santos, membros do Conselho Geral do instituto, que foram divulgados pelo PÚBLICO nas últimas semanas.

Na informação enviada à câmara por Luís Reto refere-se que a “construção das instalações da nova Escola de Hotelaria” foi aprovada em três órgãos do instituto universitário: no Senado (com 34 votos a favor e cinco abstenções”, no Conselho Geral (com 16 votos a favor, quatro contra e quatro abstenções) e no Conselho de Curadores (onde foi aprovado por unanimidade).     

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