Fibra óptica que entupiu saneamento de Braga não estava autorizada

Empresa municipal conhecia há pelo menos dois anos troço de 2,5 quilómetros de cabos dentro das condutas

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Alessandro Bianchi/Reuters

Os responsáveis pela empresa de água e saneamento de Braga, Agere, retiraram, nos últimos dias, do interior das tubagens, cerca de um quilómetro de cabos de fibra óptica que ali tinham sido instalados “sem autorização” e que foram responsáveis por uma obstrução na rede. A empresa municipal sabia há pelo menos dois anos da sua existência, mas diz não ter conseguido resolver o problema a tempo de evitar um derramamento de efluentes no rio Este, durante o fim-de-semana.

O vereador do ambiente da Câmara de Braga, Altino Bessa, e o administrador da Agere, Rui Morais, convocaram os jornalistas, nesta terça-feira, para explicarem a situação, manifestando a sua “surpresa” pela existência do cabo de fibra óptica dentro do colector de saneamento. No entanto, o gestor da empresa de água e saneamento acabaria por admitir que a situação não era totalmente desconhecida. Aquele troço da rede digital, de cerca de um quilómetro, já tinha sido desactivado e substituído por um novo cabo subterrâneo, precisamente para permitir a sua remoção. Além disso, há cerca de dois meses, a empresa não conseguiu fazer uma vistoria naquele troço do colector porque o robô com câmara de vídeo que devia passar nas condutas não podia fazê-lo devido à obstrução.

“Infelizmente não se foi a tempo de o retirar e evitar o sucedido”, lamentou. Por isso, a Agere “já tinha a indicação de que podia ser este o problema” quando os técnicos da empresa foram chamados às margens do rio Este, no dia 9 de Dezembro, para resolver o problema de um vazamento da rede de saneamento. Desde então, os funcionários da empresa estiveram no local durante seis dias, procedendo ao desbloqueio das condutas, tendo sido necessária a contratação de uma empresa externa e de maquinaria própria para proceder à remoção dos detritos.

Ao longo dos últimos oito anos, os dejectos enviados para a rede de saneamento pelos bracarenses foram-se acumulando no cabo de fibra óptica instalado dentro do colector, criando uma barreira cada vez maior à passagem dos efluentes domésticos. A situação acabou por gerar um “rolhão” que criou um “entupimento global” na conduta, provocando a inundação, explicou Rui Marques.

Esta não era sequer a primeira vez que a fibra óptica, instalada no âmbito do proecjto Braga Digital, a partir de 2007, provocava problemas. Em 2013, ainda durante o anterior mandato autárquico, um outro troço da rede de banda larga, entre o Parque de Exposições e a avenida Frei Bartolomeu dos Mártires, teve de ser desmantelado depois de uma inundação nas margens do Este.

A instalação de fibra óptica nos colectores da Agere foi, no entanto, feita sem o conhecimento da empresa municipal. “Não existe qualquer pedido de autorização para que o cabo passe dentro deste ou de outro qualquer colector”, garante o administrador Rui Marques, acrescentando que esta é uma prática contrária às recomendações técnicas das entidades reguladoras da água e saneamento e também das infra-estruturas de comunicação.

O Braga Digital era gerido por um consórcio onde participava a autarquia e outras entidades públicas e privadas da região, pelo que era uma entidade externa ao município, que entretanto foi extinta, motivo pelo qual a câmara garante não ter conhecimento do caderno de encargos da empreitada de instalação da rede de fibra óptica nem da empresa que fez esse trabalho, não sendo, por isso, possível até ao momento perceber de quem foi a responsabilidade pela instalação da fibra óptica dentro dos colectores de saneamento.

Ao todo, eram cerca de 2,5 quilómetros do “anel” de fibra óptica instalados em condutas de efluentes, entre o polo da Universidade do Minho e o Parque de Exposições. Depois dos desmantelamentos de 2013 e dos últimos dias, falta ainda retirar o último troço que corre dentro de condutas de saneamento, entre os campos de futebol da Rodovia, contornando o Instituto Ibérico de Nanotecologia, até à universidade.

O “anel” de banda larga à volta da cidade – que na prática não o é, uma vez que nunca foi encerrado entre os dois extremos mais a Norte – era um dos sub-projectos do Braga Digital e tinha um orçamento de 700 mil euros. A iniciativa global implicou um investimento de cerca de 10 milhões de euros entre 2007 e 2009. 

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