Eixo Atlântico queixa-se de falta de informação sobre linha Porto-Vigo

Secretário-geral desta organização acusa ministro Pires de Lima de mentir sobre o projecto de modernização da linha

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O Celta faz a ligação Porto-Vigo em cerca de duas horas Nelson Garrido

A organização transfronteiriça Eixo Atlântico, que reúne municípios do Norte de Portugal e da Galiza, tenta, sem sucesso, desde Dezembro do ano passado, obter informações oficiais do Governo Português sobre o andamento do projecto de modernização da Linha do Minho. Em contraponto, o secretário-geral desta associação reagiu com indignação ao conteúdo de uma entrevista do ministro da Economia a um jornal galego, acusando Pires de Lima de “mentir abertamente” sobre este projecto crucial para a euroregião.

“Cando o Pires de Lima diga que fai sol, melhor apanhem o gardachuvas”. É desta forma, cáustica, e em galego, que Xoán Mao, secretário-geral do Eixo Atlântico reagiu, em artigo de opinião na edição de domingo do PÚBLICO, a uma entrevista de Pires de Lima à correspondente do La Voz de Galícia em Lisboa, publicada a 19 de Abril. Nela o ministro garante que o Governo está a analisar uma proposta de Rui Moreira, autarca do Porto, para uma linha em alta velocidade entre as duas regiões, com ligação ao aeroporto Sá Carneiro, quando o que está para ser lançado, e com atraso, é a modernização da Linha do Minho para a possibilidade de utilização, no máximo, de comboios pendulares.

A estupefacção do secretário-geral do Eixo com o teor da entrevista é maior dado o facto de este organismo estar há quatro meses a trocar correspondência com o Governo português, através do gabinete do primeiro-ministro, sem qualquer resposta efectiva aos pedidos de informação sobre o andamento do processo. O chefe de Governo remeteu os pedidos – e as respostas aos mesmos – para a tutela do sector, o ministério e a secretaria de Estado dos Transportes. Mas nem Pires de Lima nem Sérgio Monteiro responderam, garante Xoán Mao.

“Os portugueses não merecem um ministro que lhes minta. Nem um primeiro-ministro (boa pessoa e honesto, por certo) a quem os seus não obedecem”, escreve Xoán Mao no PÚBLICO. “Nada avançou na linha desde há dois anos. Nenhum concurso foi licitado desde o ano passado. E o dinheiro que se pediu para esta ligação ferroviária desconhece-se o seu destino, pelo que suspeitamos de que tenha sido desviado novamente para outra parte do país”, escreve o secretário-geral do Eixo Atlântico, entidade que tem feito deste tema uma bandeira.

Mao refere-se a um pedido de 147 milhões de euros à Comissão Europeia, revelado em Março pelo presidente da Refer. A notícia deixou na altura muito satisfeitos – embora cautelosos, dado o histórico de adiamentos –  os autarcas da euro-região. E verdade é que nada mais lhes foi dito oficialmente, sobre os concursos para as várias fases deste projecto que deveria materializar-se entre 2017 e 2019. O que Mao nota é que o valor em causa permite fazer a prometida modernização da linha – basicamente a sua electrificação – mas não dá, nem era suposto que desse, para que se fale em alta velocidade.

Contactado pelo PÚBLICO, o gabinete do ministro Pires de Lima explicou que pretende esclarecer, ainda nesta terça-feira, se possível, as dúvidas que persistem sobre o estado em que se encontra o projecto.  O objectivo deste esforço de modernização, pedido há muito por autarcas galegos e portugueses, é reduzir de duas horas para 90 minutos a ligação ferroviária entre o Porto e Vigo.

Do lado português, o Governo desistiu de um projecto de alta velocidade entre as duas regiões, ao contrário do que aconteceu em Espanha, em que acaba de ser inaugurada a ligação entre a Corunha, Santiago e Vigo em AVE, o serviço ferroviário de ponta do país vizinho. Se a obra prevista para Portugal se vier a concretizar, de Vigo para sul os clientes terão, no máximo, algo parecido com um comboio pendular, se a CP vier a comprar material circulante ou se a sua homóloga Renfe disponibilizar os seus próprios comboios. Para já têm se contentar com o Celta, serviço que conseguiu melhorar a captação de clientes, mas que continua a dar prejuízo operacional.

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