É preciso chamar gente ao centro histórico do Porto

Foto
Apesar das melhorias, ainda há muito a fazer no centro do Porto Renato Cruz Santos

No dia em que se comemora o Dia Nacional dos Centros Históricos, a festa promete, no eixo que liga a Rua das Flores, o Largo de S. Domingos e o Largo dos Lóios. Após alguns meses de obras que testaram a paciência dos moradores e comerciantes da zona, a área encontra-se renovada. Moradores e comerciantes alertam para o facto de o centro precisar de gente, gente essa que abandonou o espaço pela degradação.

Já foram mais os vestígios de obras que passaram, por largos meses, no coração portuense. Prepara-se a rua e dão-se os últimos retoques para que tudo esteja pronto hoje, o dia da reabertura da Rua das Flores, Largo de S. Domingos e Largo dos Lóios, uma conclusão marcada para coincidir com as celebrações dos centros históricos. As obras, iniciadas em Julho do ano passado, tinham como objectivo reabilitar a zona histórica e tornar estas ruas principais e as adjacentes, em ruas pedonais.

É na Casa Leandro, situada na Rua de Trás, que Rui Botelho, de braços cruzados atrás do balcão manifesta a sua opinião sobre as obras. Apesar de ser a favor de tudo que seja para melhorar o centro da cidade, expressa um certo descontentamento em relação ao que foi feito. Se inicialmente era para durar “cinco ou seis meses, já lá vai um ano” e o resultado, segundo o proprietário do café, não foi o melhor. “Ficou um bocado cinzento e desprotegido, não ficou nada como devia”, explica, afirmando que se poderia ter feito algo com mais dinamismo, como pintar com mais cor o Largo dos Lóios.

Embora concorde com a pedonalização das ruas, “não há sinais e os carros passam na mesma”. E também há outra questão: os prédios velhos continuam. “Se as casas estão a cair, como é que as pessoas deverão ficar? Se estas casas fossem ajeitadas, a cidade passava a ter mais vida e mais gente, mas ficam abandonadas anos e anos”.

Salomão Costa, nascido na Rua dos Caldeireiros, é da opinião que “mais vale tarde do que nunca”, ainda que afirme que as obras já deveriam ter sido iniciadas há mais de 30 anos. É na “sua” rua que exprime o entusiasmo pelo centro histórico, pela beleza das ruas e das casas, que passa subentendida a quem lá passa diariamente. O que falta? Falta gente, nas ruas, nas portas a conversar. “Já saiu daqui muita gente porque as pessoas esquecem-se que os centros históricos não são só os edifícios, são também as pessoas. E as pessoas já saíram”, lamenta Salomão. A degradação obrigou a sair e as rendas elevadas impedem o regresso. Os jovens, esses, não têm poder financeiro para ali habitar.

A zona pedonal agrada-o, ainda que sinta a falta de algo característico, como ter uma linha de eléctrico na Rua das Flores, conduzindo as pessoas até à zona ribeirinha para apreciarem as fachadas. O que falhou? A falta de comunicação. “Quem decide as coisas não fala com quem cá mora, tentar saber ideias”.

É na Rua das Flores que Ludovina Almeida e Maria do Carmo Gil exteriorizam o seu contentamento com o resultado final. Ludovina soube da festa pelos lampiões enfeitados, que decoram a rua, recentemente intitulada como “rua do Tombo”. Tal como Ludovina, Maria do Carmo afirma que a rua está bonita e renovada, bem como as restantes e acredita que ainda haja gente a querer saber do centro histórico do Porto, principalmente os turistas, que ficam maravilhados quando por ali passam, habitando cada vez mais os hostels para verem mais de perto o passado gravado nas fachadas das casas antigas.

Embora o passado e a tradição estejam presentes na rua, são muitos os espaços modernos que por ali surgem. Nuno Castro, proprietário do restaurante, critica a forma como todo o processo se desenvolveu. “Obviamente que quem está a pagar isto tudo são os comerciantes, os habitantes da zona, a população em geral e a única crítica que faço é falta total de planeamento”, explica. Embora insista e reforce o facto de estar perfeitamente de acordo com a revitalização do centro histórico, tal como Salomão, diz que já deveria ter começado há 30 anos atrás.

Aponta ainda mais um problema: o tempo da obra. Se inicialmente lhe fora informado que os trabalhos terminavam a 31 de Outubro de 2013, só agora é que foram concluídos. Ainda que não haja obras “sem sacrifício” é “preciso respeitar quem trabalha, quem dá emprego e quem paga impostos”.

Quanto à zona pedonal assegura que será uma mais-valia, mas para que isso aconteça o comércio da rua tem de sofrer, ele próprio, uma revitalização uma vez que se encontra muito antiquado. “A Rua das Flores, que é uma das mais bonitas e mais emblemáticas da cidade do Porto, só pode ter movimento e só pode chamar gente se houver pólos de interesse”, esclarece. A reabilitação tem de passar também por melhorar as casas, tão características da cidade.

Assim, a opinião é unânime. De facto, notam-se algumas melhorias, mais ainda há muito a fazer e isso passa por voltar a trazer as pessoas para o centro histórico. 

Sugerir correcção
Comentar