Carrinha percorre estradas de Nelas e Carregal para dar boleia a quem precisa

O serviço é gratuito e tem itinerário e horários definidos.

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Nelson Garrido

Uma carrinha da Fundação Lapa do Lobo percorre de segunda a sexta-feira várias estradas dos concelhos de Nelas e de Carregal do Sal, num total de 130 quilómetros diários, para dar boleia a quem precisa.

Este serviço de boleias, que completa nesta segunda-feira um mês, é já considerado um sucesso, sendo o número semanal de utentes superior a 35.

A secretária-geral da fundação, Sónia Simão, explicou à agência Lusa que a ideia de criar este serviço surgiu na sequência de pedidos de pessoas de Lapa do Lobo que não tinham como se deslocar, por exemplo, para o posto médico de Canas de Senhorim ou para as Finanças de Nelas.

“Inicialmente, este serviço foi pensado para responder a essas solicitações. Depois, quando foi apresentado às Câmaras de Nelas e Carregal do Sal (área de abrangência da fundação), elas receberam-no com grande entusiasmo e indicaram também alguns locais que poderiam ser de passagem do serviço de boleias, para dar resposta às dificuldades das pessoas dos dois concelhos”, contou.

Uma das preocupações da fundação – que é uma entidade privada com objectivos fundamentalmente culturais, educativos e de preservação do património - foi que este serviço não colidisse com os transportes públicos nem em termos de horários, nem de percurso.

O serviço é gratuito e tem itinerário e horários definidos. Lapa do Lobo, Canas de Senhorim, Nelas, Laceiras, Cabanas de Viriato, Travanca de S. Tomé, Carregal do Sal, Oliveirinha e Fiais da Telha são locais onde as pessoas podem apanhar boleia.

No dia da reportagem da Lusa, às 09h00, já Conceição Dias, de 57 anos, esperava na Junta de Freguesia de Lapa do Lobo.

“Só temos uma ‘motita’ que o marido leva para o trabalho e como andava de boleia com pessoas conhecidas, isto dá-me imenso jeito”, admitiu, contando que chega usar o serviço três vezes por semana.

As suas idas a Nelas são planeadas em função do horário estipulado. A carrinha chega a primeira vez à sede do concelho às 09h25 e volta a passar duas horas depois, o que dá tempo para tratar de vários assuntos.

“Acho uma ideia original, que dá imenso jeito a pessoas como eu, que não têm transporte. E como estou desempregada, com o meu filho, isto caiu mesmo do céu”, frisou.

Também Sérgio Loureiro, igualmente desempregado e com 57 anos, apanhou boleia para ir de Nelas, onde frequenta uma acção de formação, até Lapa do Lobo, onde vive.

“É bom ser gratuito e estar disponível. Como agora, (se não fosse a carrinha) tinha de ir com o colega até ali (Canas de Senhorim), depois ir a pé ou arranjar boleia novamente. Assim sempre é melhor, é mais directo”, afirmou.

Com a mesma idade e a mesma situação profissional de Conceição Dias e Sérgio Loureiro, Maria Olinda tinha por hábito ir a pé de Travanca de S. Tomé a Carregal do Sal para tratar dos seus assuntos, como “meter o carimbo” que lhe permite continuar a receber o subsídio de desemprego.

Durante a sua primeira viagem na carrinha da fundação, relatou à Lusa como ficou a saber deste serviço.

“Eu não sabia, agora é que eu vinha a pé e a sogra do Tó disse: ‘Ó Olinda, não vás a pé que há de passar aí uma camioneta que leva o pessoal’. E eu esperei”, contou.

Divorciada, com as filhas, os genros e os netos no estrangeiro, Maria Olinda não tinha como se deslocar para Carregal do Sal. Agora que conhece o novo serviço, pretende aproveitá-lo.

“Mesmo no verão, uma pessoa vai de manhã cedo para a fazenda e depois vem e prepara-se para ir ao Carregal”, afirmou, já a fazer planos e prometendo dar a conhecer a novidade às amigas.

Simão Pedro é quem conduz a carrinha de nove lugares adquirida de propósito pela fundação para este serviço. É não só condutor, mas também muitas vezes confidente.

“Vão à farmácia levantar os medicamentos, fazer análises, à Câmara pagar a água, levantar a reforma e é engraçado porque me contam isso tudo”, afirmou, acrescentando que já lhes explicou não ser preciso darem justificações.

Sónia Simão referiu que, além do investimento inicial na carrinha, dos seguros obrigatórios e do salário do motorista, este é um serviço que não fica muito caro.

“Fica aqui a dica, um exemplo a seguir por outras instituições, por autarquias pelo país fora” onde o serviço de transporte público seja escasso, frisou.

 

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