Carne de falso porco preto alentejano continua a invadir supermercados e restaurantes

O número de explorações onde o porco preto é criado baixou, mas não há falta de carne no mercado.

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Nuno Faustino, presidente da Associação de Criadores de Porco Alentejano (ACPA), faz alerta idêntico. Na situação actual "ninguém pode garantir" que a carne vendida ao consumidor "seja de porco preto alentejano" observa.

Com efeito, "não existe nada que regulamente" a actividade na fileira, condicionada por um crescendo de situações anómalas. O facto é que a carne de porco preto alentejano está praticamente arredada do mercado nacional devido à imbatível concorrência espanhola. A alternativa está na produção do porco alentejano puro que vai em grande parte para o fabrico de presuntos em Espanha. Nuno Faustino adianta que "a sua qualidade é de tal forma elevada que os espanhóis compram mais de 90% da produção feita pelos associados da ACPA".

"Com tanto produto de porco preto que há por aí" à venda, e numa altura em que se assiste a uma redução significativa de explorações em Portugal e até em Espanha, "nunca se sentiu a falta de carne" no consumidor e a preços acessíveis, o que suscita suspeitas. Acresce ainda o facto de poder ser vendida sem qualquer controlo, porque "não há legislação para a actividade, nem fiscalização", afiança Nuno Faustino.

O suíno tipicamente alentejano "está a ser substituído por um produto barato, de qualidade inferior, que dizem ser porco preto, mas nada tem a ver, e não dá hipóteses à produção alentejana de chegar ao mercado", sobretudo a restaurantes e grandes superfícies comerciais, sustenta o presidente da ACPA.

Assim se explica que, de 2011 até ao presente, já só existam metade das cerca de 300 explorações de suínos que antes havia em todo o Alentejo.
No Sul do país criavam-se porcos pretos cruzados com porco alentejano puro e com porco Duroc de origem americana. Mas, além dos custos de produção serem mais elevados do que em Espanha, subsiste outra questão de fundo: criar um porco preto alentejano com a matriz geneológica que o caracteriza (50% porco Alentejo puro e 50% Duroc) demora no mínimo um ano. Os espanhóis fabricam-no em sete a oito meses.

Na melhor das hipóteses, as carcaças dos suínos colocados em Portugal "nem 25% de porco ibérico terão". O suíno que é designado em Espanha como porco ibérico é "baptizado" em Portugal "porco preto alentejano", quando na realidade não obedece aos mesmos critérios a que os criadores nacionais são obrigados.

Só a regulamentação da actividade e um relacionamento comercial com os produtores espanhóis baseado em regras previamente estabelecidas podem "travar a actividade de pessoas que adulteram" as condições de produção, tornando-as mais baratas, para "ganharem uma margem de rentabilidade que não lhes é devida", realça, por seu turno, Bulhão Martins, defensor de uma norma que "proteja o consumidor de ser enganado com a história do porco preto".

Já existe um projecto de portaria que neste momento estará para consulta em Bruxelas que vai definir as regras de produção e comercialização do porco preto. A sua publicação pode vir a ter lugar "dentro de dois meses", confia o presidente da ACPA.

Do que já está acordado entre o secretário de Estado da Alimentação e da Indústria Agroalimentar, Nuno Vieira e Brito, as duas associações de criadores e a indústria transformadora, o porco preto pode ser criado em regime intensivo e em espaço fechado, mas também em extensivo, no campo. O rótulo que acompanhará os produtos clarificará a diferença para o consumidor.

A classificação de porco preto será atribuída aos suínos que resultarem de cruzamento. Na sua caracterização genética terá de haver, no mínimo, 50% de porco alentejano. Na aceitação destes parâmetros por parte dos criadores fez-se sentir "a pressão das indústrias de transformação", ao exigirem a produção em intensivo, em meio fechado, com o argumento de que o campo "não teria condições" para produzir todos os porcos pretos necessários para alimentar as indústrias de salsicharia e enchidos.

As associações de criadores acederam, mas exigiram a produção do porco preto em regime extensivo, no campo, entre porco alentejano fêmea e Duroc macho.

Nuno Faustino realça as enormes potencialidades oferecidas por cerca de 160 mil hectares de montado que existem no Alentejo, determinante na criação do porco alentejano puro, fundamental para a produção de presunto, assim como para o porco preto alentejano que fornece as indústrias de carne fresca e de enchidos.
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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