"Bai lenço da minha mão, bai currer a freguesia" – e os lenços de namorados reinventaram-se

Da tradição de lenços com escritas de amor nasce uma marca onde (quase) tudo é passível de ser transformado. A Namorar Portugal foi buscar a tradição das bordadeiras e há já dezenas de produtos inspirados nos lenços dos namorados.

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Hugo Delgado

O ponto de partida é o amor. Ou melhor, o ponto de partida são os lenços dos namorados, tradicionais de Vila Verde, e que são, ainda hoje, símbolo materializado do amor. A partir daqui, nasce a marca Namorar Portugal, uma marca do município minhoto e que leva o conceito dos lenços para outras vertentes, para outros produtos.

O trabalho das bordadeiras da zona, nomeadamente da Cooperativa Aliança Artesanal, é a rampa de lançamento para o nacimento e crescimento da marca. Depois de anos de trabalho da cooperativa, surge em 2003 o desafio a estilistas nacionais: “Convidamos estilistas como o Nuno Gama, a Anabela Baldaque, o Nuno Baltazar, para criarem peças de vestuário contemporâneas inspiradas nos lenços dos namorados”, explica ao PÚBLICO a vereadora da cultura da autarquia, Júlia Fernandes. Cria-se então um desfile de moda, onde várias escolas de estilismo nacionais são convidadas a participar, surgindo o primeiro concurso internacional de criadores de moda de Vila Verde.

O sucesso da primeira edição fez com que o evento se repetisse, sendo que em 2016 irá para a sua 13ª edição. Mas também desencadeou novas ideias: algumas marcas começam a juntar-se ao município, reinventando a forma de se ver os lenços dos namorados: “Desafiamos alguns produtores para que se inspirassem nos lenços de forma a conseguirem passar do pano de linho para outro tipo de suportes esta escrita de amor”, explica Júlia Fernandes.

O projecto cresceu, com cada vez mais marcas a associarem-se ao conceito, e em 2008 surge a marca Namorar Portugal, do município de Vila Verde, e que agrega todos os produtos que se foram associando. Actualmente há 30 parceiros, mas a expansão está para breve, como revela a vereadora da Cultura: “Estamos a preparar, para o mês de Fevereiro, 15 novas parcerias com propostas inspiradas nos lenços”.

Os produtos vendidos são para todos os gostos e todas as carteiras – numa viagem rápida pela loja online, encontramos um pin por apenas 1,75 € e um anel por 8000€. Paula Isaías, responsável pela Aliança Artesanal, explica que os produtos mais requisitados são variados: “Muitas pessoas procuram produtos cujo binómio qualidade/preço seja bom, normalmente peças entre os 5 e os 20 euros, mas há também clientes que procuram peças mais caras. Os sapatos, cujos preços começam por volta dos 80 euros, são dos mais procurados”. Já no que toca ao perfil dos consumidores, a responsável salienta que a época do ano dita quem mais compra nas lojas: “No Verão temos mais turistas, no Inverno são mais pessoas da região que nos visitam, querem conhecer a zona, a gastronomia, e acabam por vir também à loja”. Já Júlia Fernandes distingue o público-alvo: “Os nossos produtos são muito virados para o público feminino, entre os 30 e os 50 anos, embora tenhamos alguns produtos específicos para homens”. Mas apesar de não serem uma maioria, também os jovens encontram na Namorar Portugal alguns artigos de interesse: “As capas para o telemóvel, as esferográficas, os ímanes de frigorífico, são artigos que o público mais novo aprecia”, acrescenta a vereadora.

A marca expandiu horizontes ao abrir uma loja pop up no Braga Parque, que se manterá até ao dia 6 de Janeiro, e onde as pessoas terão acesso a todos os produtos da Namorar Portugal. Depois disso, várias parcerias estão já a ser pensadas, no sentido de levar a outras cidades o conceito. Os interessados poderão também visitar a loja sediada na Cooperativa Aliança Artesanal, ou fazer encomendas online. Contudo, há alguns produtos, como os chocolates, que através das marcas parceiras estão já noutros pontos do país.

Os produtos são tão variados que vão do têxtil ao agro-alimentar, passando por jóias, peças de decoração ou de moda. Uma das primeiras empresas a juntar-se ao conceito, a Vista Alegre, que começou com um conjunto de chávenas com os motivos dos lenços, tem actualmente um serviço completo com o mesmo tema. No sector alimentar, a marca tem, para além dos já referidos chocolates, mel, queijo e azeite. Em Fevereiro, o leque deve ser alargado com compotas, licores e aguardente.

Como Fevereiro é, por excelência, o mês do amor, o desfile de moda é marcado para este mês, e para um dia muito particular: “A 14 de Fevereiro fazemos sempre um grande evento, com um jantar romântico para 600 pessoas. É uma noite de glamour”, promete Júlia Fernandes. Mas o tema, cujo evento se esgota numa noite, tem pano (ou lenço…) para durar o mês todo, como exemplifica a vereadora: “Vamos lançar novos produtos todos os dias do mês de Fevereiro”. O objectivo passa por tentar fazer os lançamentos em vários pontos do país, não se cingindo a Vila Verde. Existirão também exposições e acções promocionais, que ocorrerão também no Aeroporto Francisco Sá Carneiro e em Santiago de Compostela.

A Namorar Portugal, que já se cimentou como marca de qualidade do município de Vila Verde, apresenta-se com um futuro risonho, quer pelo investimento que os produtores nela fazem, quer pela procura que têm: “As pessoas já perceberam a importância da marca, pelo que perspectivamos mais parcerias, porque vêem nela uma mais valia”, diz a vereadora, que remata: “[Os clientes] têm vontade de oferecer aquilo que é nacional, que é bom, que é artesanal e que alia a tradição à modernidade”.

Texto editado por Ana Fernandes

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