Autarca exige que o Hospital de Portimão volte a ter cuidados de saúde de excelência

Isilda Gomes reuniu-se com o ministro da Saúde e mostra-se confiante na decisão. Mas avisa que voltará à carga se a solução não beneficiar Portimão.

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O ministério pede "urgência" na colocação destes médicos Enric Vives-Rubio

A polémica que se instalou por causa da eventual reconversão do Centro Hospitalar do Algarve (CHA) em duas unidades locais de saúde (ULS) está longe de estar sanada. A presidente da Câmara de Portimão, Isilda Gomes, que nunca aceitou a fusão do hospital local com o de Faro, avisa que se a decisão do ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, não se traduzir “na excelência da prestação dos cuidados de saúde” aos utentes do concelho não se vai calar.

A transformação do CHA, que integra os hospitais de Faro e Portimão, em duas ULS está em cima da mesa e já foi discutida a nível do Ministério da Saúde, mas Adalberto Campos Fernandes garante que não foi tomada qualquer decisão. “Estamos a olhar para a saúde no Algarve com muita atenção, cuidado e ponderação e a estudar vários cenários”, disse o ministro sem especificar quais.

Estas declarações foram proferidas por Adalberto Campos Fernandes, no Porto, na manhã da passada terça-feira. Ao fim da tarde, o ministro da Saúde reuniu-se com Isilda Gomes, a pedido da autarca de Portimão. Nesse dia o PÚBLICO revelou uma carta aberta que o director do Serviço de Gastroenterologia, Horácio Guerreiro, do Hospital de Faro escreveu ao ministro da Saúde e na qual alertava para as consequências da mudança em causa, ao mesmo tempo que condenava a “falta de visão estratégica da classe política, que sacrifica o futuro a troco da satisfação do seu próprio ego”. Mas dizia mais. “A médio prazo, o modelo de decapitação hospitalar e de subjugação do sistema de saúde do Algarve à Administração Regional de Saúde de Lisboa levará também a que seja liquidado o Curso de Medicina da Universidade do Algarve”, que foi criado no meio de muito polémica.

Em declarações ao PÚBLICO, Isilda Gomes reforça a posição da tutela, afirmando que “não há nenhuma decisão tomada” relativamente ao CHA e mostra-se confiante na decisão que a tutela vai tomar. “Não está ainda decidido se vão ser duas unidades locais de saúde. É preciso sensatez”, afirma, sublinhando que “aquilo que se destruiu em três anos [o CHA foi constituído em 2013, com o Governo da coligação PSD/CDS] não se resolve em três dias ou em três semanas”.

A autarca de Portimão (PS) empenha-se em esvaziar um pouco a polémica quanto ao encerramento do CHA. ”Se me pergunta se é determinante para mim que o Centro Hospitalar do Algarve termine? Eu respondo-lhe que o que é importante é que os cuidados de saúde no Algarve sejam de qualidade e que o Hospital de Portimão passe a ter uma prestação de cuidados de excelência. Não interessa se a organização se chama CHA ou não”.

“Há três anos tínhamos uma excelente qualidade nos cuidados de saúde em Portimão e nós queremos voltar a ter essa excelência”, reivindica, afirmando que “houve imensos serviços que saíram do hospital de Portimão como a cardiologia e que têm que regressar”. “O senhor ministro é uma pessoa muito determinada e fiquei com a certeza de que o Barlavento, que foi penalizado, será compensado. Se assim não for, eu cá estarei de novo”, disse.

Sucede que esta não é a primeira vez que Isilda Gomes se envolve na questão do Centro Hospitalar do Algarve. Quando o anterior Governo decidiu fundir os dois hospitais, Isilda Gomes foi uma das subscritoras de uma providência cautelar para impedir que os médicos de Portimão fossem mudados para o Hospital de Faro e o tribunal deu-lhes razão.

O médico Horário Guerreiro confirma esta versão, mas diz que “é preciso ultrapassar divergências antigas”, chamando a atenção para a importância do Algarve ter “massa crítica suficiente para não colocar em risco o Curso de Medicina”. “Uma comissão de avaliação ao curso encontrou lacunas relativamente ao número de professores doutorados. Por isso é que eu digo que a fragmentação do hospital a médio prazo será uma perda para o curso de Medicina”, afirmou ao PÚBLICO o especialista, que integra a comissão de acompanhamento do curso no Hospital de Faro.

Segundo o presidente da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES), Alberto Amaral, “todos os cursos de medicina serão, este ano, alvo de uma avaliação, através de uma comissão e peritos”.

 

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