"Anda o diabo à solta" no centro histórico de Santiago do Cacém

Grupos de indivíduos cobriram de madrugada, com as mais variadas inscrições, paredes de edifícios públicos e religiosos, casas particulares, sinais de trânsito e painéis publicitários.

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Miguel Madeira

Na madrugada de sábado "andou o diabo à solta" pelas ruas do centro histórico de Santiago do Cacém, ilustrou Sara Fonseca que reside na zona mais antiga da cidade e já perdeu a conta às vezes que os "artistas" do grafitti, concretamente de tags (assinaturas) cobrem as paredes da sua casa com o mais variado tipo de inscrições de cores vivas.

"Não podemos continuar assim" desabafa a senhora cansada das "batalhas nocturnas" que indivíduos vindos, não se sabe de onde, travam entre si recorrendo a mensagens de código "que só eles entendem".

Sara Fonseca não aceita que alguém queira transformar Santiago do Cacém na "Disneylândia dos graffiters" um problema que se "agudiza"sem que haja da parte das autoridades uma acção preventiva, num local que se tem vindo a degradar por nele residir uma população envelhecida e marcada pelo medo dada a situação de abandono a que está votada.

O relato de Volha Navumava, funcionária na Igreja Matriz de Santiago do Cacém, é elucidativo: "Na manhã do sábado passado, quando me aproximava do local de trabalho, reparei que inscrições estilo grafitti cobriam portões velhos e paredes de prédios". À medida que caminhava, o cenário surgia cada vez mais "surreal e brutal com letras enormes e de cores vivas (azul, vermelho, entre outras), feitas na parede caiada de branco por baixo da Igreja".

Olhou em volta e notou que o spray dos graffiters não poupou sequer a bomba de água situada junto da Igreja, assim como a caixa de leitor de electricidade, os painéis informativos da Rota Vicentina e outra sinalética do respectivo percurso. Vários edifícios públicos e privados foram igualmente atingidos por actos de vandalismo. Uma lata vazia de tinta foi deixada junto à Igreja para ser recolhida por militares da GNR que tomaram conta das ocorrências.

Volha Navumava lembra que no dia anterior à intervenção dos graffiters, uma empresa de nome "Casas Brancas" tinha dado por terminada mais uma acção de limpeza das inscrições antigas. De nada valeu. A acção dos "artistas" foi muito mais intensa mas, desta vez, o templo mais carismático de Santiago do Cacém foi poupado ao vandalismo. No entanto em seu redor "há um mar de disparates", protesta Sara Fonseca, contando que o ano passado os paroquianos tiveram de realizar uma noite de fados para pagar a recuperação das portas da Igreja Matriz.

A residência dos pais de Franscisco Lobo de Vasconcellos também não foi poupada às inscrições. "Somos vítimas regulares dos graffiters" como também são frequentes as queixas apresentadas à GNR e as limpezas das paredes, portas e janelas do edifício.

O mal-estar não é só para os que residem no local mas também para os estrangeiros que visitam sobretudo a igreja matriz e que são confrontados com percursos repletos de graffitis, quando a Câmara de Santiago do Cacém insiste em apresentar o concelho como o destino de excelência.

A GNR de Santiago do Cacém informa que já foi enviado um auto de notícia para tribunal e que a ocorrência está em fase de inquérito, sem que até ao momento fossem identificados os autores das inscrições.

O presidente da Câmara de Santiago do Cacém, Álvaro Beijinha reconhece que os actos de vandalismo são "recorrentes" e que a GNR admite "não ser fácil descobrir os autores de um crime que é público".

A falta de meios e efectivos na corporação de Santiago do Cacém "é a questão de fundo" que "dá alento àqueles que queiram prevaricar porque se sentem à vontade para o fazer", argumenta o autarca.

 

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