Alqueva já tem condições para que o Alentejo volte a ser o "celeiro da nação"

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A cultura do milho de regadio está a desenvolver-se rapidamente na zona de Alqueva Adriano Miranda

Onde se plantava trigo, quando, no século passado, a região era conhecida como o "celeiro da nação", há agora searas de milho que podem chegar aos 70 a 80 mil hectares e dar 1,2 milhões de toneladas de cereal.

Pressionados por longos períodos de seca severa e extrema, os agricultores alentejanos estão a canalizar as suas expectativas para Alqueva, onde dispõem de condições edafoclimáticas (de solo e clima) e quantidades de água apropriadas para a produção de milho. A cultura deste cereal destaca-se pela elevada exigência de água, oscilando o débito necessário à rega de um hectare entre os 7 e os 9 mil metros cúbicos.

Os dados que o Instituto de Financiamento da Agricultura e Pesca (Ifap) divulgou na passada semana são reveladores do súbito interesse pelas terras a irrigar por Alqueva até 2015. Realçam o "significativo" acréscimo da área dedicada à produção de milho para grão no regadio já disponível, onde se verificou em 2011 um aumento de 6000 hectares na área cultivada.

"Se não fossem as novas áreas regadas de Alqueva, teríamos seguramente um decréscimo da produção portuguesa de milho", frisa Luís Bulhão Martins, director da Associação de Nacional de Produtores de Milho e Sorgo (Anpromis). A defesa do regadio no Sul do país radica numa estratégia "prioritária" que visa o "aumento do grau de auto-abastecimento em cereais, a redução do défice da balança comercial" e a criação de "mecanismos de adaptação aos cenários das alterações climáticas", explica.

Uma proposta avançada pela Anpromis defende a afectação de uma área com 20.000 hectares dos blocos de rega de Alqueva, onde seria possível produzir cerca de 240.000 toneladas de milho em grão e que se traduziria numa poupança de divisas de 53 milhões de euros. O presidente desta associação, Luís Vasconcellos e Souza, tem defendido mesmo um objectivo mais vasto: Aproveitar entre 70 a 80.000 hectares do Alqueva onde se poderiam produzir um milhão e 150 mil toneladas de milho por ano. Com esta produção, Portugal "poderia atingir o equilíbrio no que toca a cereais".

De acordo com os dados do Ifap, a cultura do milho ocupa em Portugal uma superfície de 140.723 hectares. Desta área, 91.678 hectares destinam-se à produção de grão e 49.045 hectares à produção de silagem para os animais. O milho continua a ser assim, de longe, o principal cereal semeado em Portugal, embora haja outros a crescer. Em relação a 2011, o trigo (mole e duro) ocupou mais 11.147 hectares, o triticale mais 7879 hectares, a cevada (forrageira e dística) mais 1303 hectares e o sorgo mais 1060 hectares. Numa situação diferente encontra-se a aveia, cuja área decresceu 5129 hectares.

18 toneladas por hectare

Em relação à actual conjuntura, a Anpromis sustenta que "apesar da acentuada volatilidade dos preços" no mercado mundial de cereais e das "dificuldades sentidas pelos produtores", estes "têm-se revelado cada vez mais competitivos" através do investimento nos regadios alentejanos.

Na Herdade do Freixo, em Selmes, no concelho da Vidigueira, a Syngenta, empresa que se dedica à investigação e desenvolvimento de plantas, está a proceder a ensaios com variedades de milho. Os resultados conseguidos revelaram, em 2011, uma produtividade que chegou a atingir os 19.686 quilos por hectare, um número que surpreendeu os próprios investigadores.

Para o regadio das plantas foi utilizado o sistema gota-a-gota com fita, que se traduziu numa significativa redução no consumo de água. O método foi uma novidade para os produtores da região, habituados a recorrer à rega por pivô ou por canhão. Agora já é utilizado em boa parte das plantações de milho nos blocos de rega de Alqueva.

Vieira Lima, um jovem agricultor que se tem dedicado aos cereais em regadio, fez este ano cultura de milho nas suas explorações localizadas no bloco de rega Alvito/Pisão e está confiante em que a produção média "poderá atingir as 16 toneladas por hectare", superior à média nacional, que se situa nas 10/11 toneladas.

Francisco Palma, presidente da Associação de Agricultores do Baixo Alentejo, partilha do mesmo optimismo, qualificando como "impressionante" o estado vegetativo das plantas. "Milhos bem regados, adubados e em terras virgens para a cultura" fazem perspectivar produções que "podem variar" entre as 14 e as 18 toneladas por hectare, nota o dirigente associativo, confirmando a boa adesão dos agricultores à cultura do milho por ter "um retorno mais fácil e seguro". É um tipo de cereal que "está muito bem estudado" e que este ano até tem beneficiado de condições meteorológicas amenas, realça Francisco Palma.

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