Algarve pretende criar rede regional de autocaravanismo

Em Portimão há um parque de caravanismo clandestino, em espaço privado, que a câmara rejeita. E, em Silves, há espaço publico onde município defende os autocaravanistas, mas a GNR não aceita.

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Enric Vives-Rubio

O turismo algarvio gira sobre rodas, passando ao lado dos empreendimentos turísticos quase vazios à espera que chegue o mês de Agosto. O caravanismo está em alta. No primeiro trimestre deste ano, nas doze áreas de acolhimento referenciadas pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) foram registados 10.384 veículos, contra 7272 no mesmo período do ano anterior. Porém, há mais sete estações de serviço à espera de serem licenciadas, funcionando na clandestinidade. O autocaravanismo, segunda a CCDR, pode ser uma actividade complementar ao campismo, mas falta regulamentação municipal.

O presidente da CCDR, David Santos, reuniu anteontem com autarcas e técnicos municipais com o objectivo de tentar avançar na elaboração de regulamentos municipas sobre o autocaravanismo que contenham princípios comuns aos 16 municípios. Já leva seis anos de trabalho o documento  que a CCDR, em colaboração com a Comunidade Intermunicipal do Algarve – Amal, elaboraram para servir de base para um decisão politica que ainda não foi tomada.

Na última reunião da Amal, a presidente da Câmara de Portimão, Isilda Gomes, denunciou que existia no concelho um parque de caravanismo, clandestino, funcionando “à margem de todas as regras, sem quaisquer condições”. Quando foi pedido à PSP para actuar, informou a autarca, “negaram, alegando que o terreno (parque de caravanas e automóveis) era propriedade privada”. Em Silves, deu-se a situação oposta. Contra a vontade da câmara, a GNR, durante um fim-de-semana no final do mês de Fevereiro, correu com todos os autocaravanistas, parqueados no jardim público, junto às piscinas municipais. “Os caravanistas dinamizam e impulsionam o comércio local”, disse a presidente da Câmara, Rosa Palma, adiantando que estava a trabalhar no sentido de encontrar uma alternativa.

Alberto Fernandes, natural de Braga era, ontem, um dos 25 caravanistas, a maioria com veículos de matrícula francesa, parqueados no espaço público, junto ao rio Arade, em Silves. “Temos aqui todas as condições, o espaço está limpo, não vejo razão para não nos quererem aqui”, disse. Um pouco mais à frente existe um parque de autocaravanas, privado, mas quase vazio – apenas com três autocaravanas. A diária nesse parque privado custa 4,5 euros, subindo para 6,5 se o utente pretender ligação à rede eléctrica. A este valor acresce dois euros para despejo das águas residuais e reposição do depósito de 110 litros de água.

No parque da marina de Portimão, onde esteve Alberto Fernandes antes de se deslocar para Silves, o parqueamento fica-se pelos 2,5 euros/dia e o porteiro ao lado de uma placa a assinalar “propriedade privada” informa: “Se quiser, passo recibo”. O espaço tem capacidade para mais de duas centenas de veículos e não lhe falta clientela. O terreno é, actualmente, propriedade do Banco Espírito Santo (BES) após a falência da firma de construção que ali pretendia erguer um empreendimento. A autarca, Isilda Gomes, lembrou na reunião da Amal que a meia dúzia de quilómetros de distância, no Alvor, se encontra um parque de caravanismo, “com todas as condições, mas vazio”.

Alberto Fernandes, ex-emigrante em França, reformado, diz que não troca a  sua “casa de férias” com rodas por nenhum hotel. “Circulo à vontade, só venho para o Algarve no Verão, quando há gente por todo o lado”. O seu “vizinho” do lado, Gastineau, técnico de telecomunicações, aposentado, não poupa elogios ao local. “Silves é encantador, adorei conhecer o castelo, as pessoas são muito amáveis e não vou esquecer o prato de bacalhau que comi aqui, num simpático restaurante”. É a primeira vez que visita o Algarve e chegou até esta cidade histórica, diz, “através da recomendação de outros autocaravanistas". "Amanhã [hoje] vou para Sagres”, adianta.

A câmara de Castro Marim, no nordeste algarvio, também  manifestou à CCDR a vontade de criar três áreas de acolhimento para autocaranavas. O objectivo é levar, através da itinerância turística, os visitantes até à descoberta do interior da região. “Mas, por favor, não nos empurrem, vamos de livre vontade”, avisa Alberto Fernandes, que, no entanto, lamenta casos como o que se passou com a GNR que expulsou os caravanistas em Silves alegando ter recebido “diversas denúncias da população” contra o lixo no espaço público.

De acordo com a legislação em vigor, as autocaravanas, se ocuparem mais do que o espaço do tamanho do veiculo, podem estar paradas, no mesmo sitio, durante 72 horas. Ao fim desse tempo, se derem uma volta e regressarem ao mesmo local, tudo volta ao príncipio.

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