Aldeia de xisto promove adopção de sobreiros para atrair visitantes

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O sobreiro é uma árvore protegida por lei Foto: Paulo Ricca

Os moradores de Ferraria de São João, concelho de Penela, estão a apelar à adopção de oito dezenas de sobreiros com vista a cativar o interesse de habitantes e visitantes para a causa da conservação da natureza e para esta aldeia de xisto.

Criada para dinamizar a aldeia, no limite dos concelhos de Penela (Coimbra) e de Figueiró dos Vinhos (Leiria), a Associação de Moradores de Ferraria de São João adquiriu 87 sobreiros que fazem parte de um sobreiral centenário situado junto à povoação. De acordo com o vice-presidente da associação, Paulo Mourão, trata-se de um "espaço único, fantástico para um piquenique, ou uma sesta em dias de Verão".

Como forma de angariar os 4300 euros do custo das árvores, que embora sendo propriedade particular se encontram num espaço público, mas principalmente para assegurar a sua manutenção e a beneficiação do espaço, a associação decidiu lançar um programa de adopção. Qualquer pessoa que queira "juntar-se a esta causa da defesa de uma espécie protegida por lei" pode aderir, explica Paulo Mourão.

Os sobreiros foram divididos em três tipologias - pequeno, médio e grande -, de acordo com o seu tamanho e idade, correspondendo o valor de adopção, respectivamente, a 40, 60 e 80 euros. Durante um período de nove anos, o adoptante terá como contrapartida a possibilidade de personalizar o seu sobreiro com iniciais ou símbolos pintados na cortiça e beneficiar de uma parte do valor da venda desta e ainda da oferta das quotas como membro da associação durante seis meses.

Além de "manter um património cultural da aldeia de enorme importância, em bom estado e com acesso público", a iniciativa pretende "cativar o interesse de habitantes e não habitantes para a aldeia e para a conservação da natureza".

O dirigente da associação destaca a importância de o projecto "beneficiar a aldeia e os seus espaços públicos com a criação e beneficiação de áreas de lazer na mata". Os sobreiros encontram-se num terreno que é considerado "logradouro da aldeia", figura que, segundo Paulo Mourão, é semelhante à do baldio, na medida em "não tem dono nem registo de propriedade". O sobreiral em questão, acrescenta, tem também uma função de protecção contra os incêndios florestais, visto serem uma "barreira natural" contra a sua propagação. "Basta verificar que no último e recente incêndio que nos fustigou, foi esta mancha florestal que ajudou a salvar a aldeia."

Além do mais, salienta, "os sobreiros constituem um património histórico e cultural a preservar, pois em tempos passados, quando a aldeia tinha perto de 1000 cabeças de gado (ovino e sobretudo caprino) era da sua ramagem que se dava alguma alimento aos animais nos invernos em que a neve não os deixava ir para a serra".

A 23 de Setembro, no quadro do programa "A Pé pelos Caminhos do Xisto 2012", decorrerá um acto formal de adopção no sobreiral, associado a um piquenique. Paulo Mourão refere que as câmaras de Penela e de Figueiró dos Vinhos prometeram apoiar a ideia e também colaborar "nas tarefas de limpeza da mata e poda das árvores". Por seu lado, a Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto também se manifestou disponível para se "associar à iniciativa como adoptante de relevo".

"Penso que a ideia é muito interessante, pois promove o envolvimento da sociedade civil numa causa pública, cruzando e aproximando habitantes da aldeia e visitantes com uma motivação comum", diz Pedro Pedrosa, residente há pouco tempo na aldeia. Justifica ter adoptado sobreiros por ser uma "espécie ameaçada num território que tende a ser dominado pela monocultura de eucalipto, que traz diversos perigos, nomeadamente dos incêndios". Também Mário Gaspar, que costuma fazer "caminhadas" na zona, defende que ao adoptar um sobreiro está a "contribuir para a sua conservação e preservação".

Integrada na freguesia de Cumieira, a aldeia de Ferraria de São João encontra-se numa crista montanhosa no extremo sul da serra da Lousã, tendo como ex-líbris os antigos abrigos dos animais. Segundo a Rede de Aldeias do Xisto, descobre-se ali como o xisto e o quartzo "se casam numa união tão perfeita".

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