Chamas no “pulmão do Caramulo” não dão tréguas aos bombeiros

Carro da corporação de Algés (Oeiras) capotou, cinco bombeiros ficaram feridos. Incêndio era o que envolvia mais meios ao início da noite de sábado.

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Este ano, como no ano passado, há 49 meios aéreos na época mais crítica dos fogos. rui farinha/nfactos

Dura há mais de 80 horas a luta dos bombeiros contra as chamas que lavram na Serra do Caramulo, em Tondela (Viseu). O fogo, que deflagrou na noite de terça para quarta-feira, na freguesia de Silvares, já queimou cerca de quatro mil hectares só naquele concelho, segundo as estimativas da vereadora da Protecção Civil, Carla Pires. “Está a arder o pulmão do Caramulo”, lamenta.

Os valores referentes à área ardida não são, porém, exactos e carecem de actualização constante. Ontem, por exemplo, o incêndio foi dado como dominado durante a manhã mas à tarde ficou fora de controlo, inesperadamente. O vento, que sopra com grande intensidade, as temperaturas elevadas e a própria geografia da serra têm estado a dificultar o combate.

Neste sábado estão no terreno mais de 300 bombeiros, apoiados por dois helicópteros, que tentam controlar uma frente activa. Às 19h, este era um dos 12 grandes fogos activos e o que mais preocuação gerava, depois de o fogo da Covilhã - e que obrigou à evacuação de um hotel e de um parque de campismo - ter sido dado como dominado a meio da tarde.

No Caramulo, a área ardida é essencialmente florestal, embora tenha já destruído alguns barracões. "Numa fase inicial era mato rasteiro mas neste momento estão a arder áreas de pinho, cipreste, eucalipto, com grande valor ambiental e patrimonial”, descreve Carla Pires. Mas a maior perda, sublinha, foi a de uma vida.

O funeral da bombeira de Alcabideche, de 22 anos, que perdeu a vida a lutar contra o fogo em Tondela na quinta-feira, realizou-se neste sábado, com a presença de mais de mil pessoas. Continua internado em estado grave um dos nove bombeiros que ficaram feridos nesse mesmo dia. O grupo foi cercado pelas chamas inesperadamente, a bombeira não conseguiu fugir.

Já neste sábado de manhã, uma viatura dos bombeiros de Algés (Oeiras) tombou num caminho rural de terra batida, que cedeu, na zona onde lavram as chamas. Os cinco operacionais que seguiam no carro tiveram ferimentos ligeiros, segundo fonte do Comando Distrital de Operações de Socorro de Viseu. A mesma fonte disse que dois bombeiros foram transportados para o hospital de Tondela e três para Viseu.

Perda "irreparável"
A serra abrange os concelhos de Tondela, Vouzela e Oliveira de Frades. Em Vouzela ardeu também uma vasta área na zona de Alcofra, num incêndio que começou na terça-feira à noite mas foi entretanto dominado. A tentar chegar às chamas, o presidente da Junta de Freguesia de Queirã, naquele concelho, ficou também ferido, com queimaduras graves sobretudo na cabeça.

Além das feridas físicas, vão demorar a curar as feridas na paisagem e nos ecossistemas da região. “As chamas começaram numa zona da serra mais a norte, com vegetação rasteira, mas depois evoluíram para uma área mais abrigada, com um ecossistema mais rico”, explica a vereadora. Nesta área, havia “povoamentos adultos, árvores com mais de cem anos”.

Carla Pires recorda a história do Caramulo, ligada desde o início do século XX às estâncias sanatoriais. “As pessoas vinham para o Caramulo curar a tuberculose”, afirma, recordando que os doentes procuravam ali o ar puro da montanha. Hoje, não teriam a mesma sorte. “É uma perda irreparável”, remata.

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