Consumo de electricidade cai para o menor nível desde 2005

Mesmo com menos electricidade consumida, carvão mais barato faz subir as emissões de CO2 do sector.

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O projecto com Marrocos poderia ser uma oportunidade de internacionalização para a REN Público/arquivo

O consumo de electricidade em Portugal caiu em 2012 para o menor nível dos últimos sete anos. As famílias e as empresas utilizaram 2,8% a menos de energia eléctrica em relação a 2011, em termos brutos.

Numa comparação relativa, que ajusta os dados como se todos os anos tivessem as mesmas condições meteorológicas, a queda foi de 3,6%.

É o segundo ano consecutivo em que o consumo abranda. Em 2011, houve uma diminuição de 3,3%, em valores brutos. Com 49.069 gigawatts-hora (GWh) de energia dispendida, 2012 fica como o ano de menor consumo eléctrico desde 2005, segundo dados das Redes Energéticas Nacionais (REN).

A nova queda no consumo coincide com a recessão económica e o aumento nos preços da electricidade. Os dados mais recentes do Banco de Portugal – para o terceiro trimestre de 2012 – colocam o PIB a recuar 3,5%. E as tarifas para as famílias subiram 4,0% em 2012, depois de terem subido também 3,8% em 2011.

Poupar electricidade pode ser uma boa notícia para o ambiente. Mas o ano de 2012 trouxe também mudanças negativas. A Associação Portuguesa das Energias Renováveis (Apren) e a organização ambientalista Quercus chamam a atenção para o efeito da queda nos preços do carvão, o mais poluente dos combustíveis fósseis.

Nas contas da Apren e da Quercus, o consumo de carvão nas centrais térmicas cresceu 33% no ano passado, enquanto o de gás natural caiu 45%. “Esta é uma consequência da queda dos preços do carvão nos mercados mundiais que se regista desde há pouco mais de um ano, resultado da exploração e oferta cada vez maior de gás de xisto nos Estados Unidos”, referem as duas associações, num comunicado.

A exploração de gás de xisto nos EUA, que tem subido significativamente desde 2008, está a revolucionar o mercado mundial da energia. Com mais gás disponível, os EUA estão a utilizar menos carvão, cujo excedente está a fazer cair os preços internacionalmente.

Na Europa, a tendência é, por isso, a inversa: utilizar mais carvão – que está mais barato – em detrimento do gás natural. O resultado é um aumento nas emissões de dióxido de carbono (CO2), o principal gás a contribuir para o aquecimento global.

Segundo a Apren e a Quercus, entre o aumento das emissões das centrais térmicas, a queda no consumo e o recurso à mais electricidade importada, o sector terá lançado mais 1,6 milhões de toneladas de CO2 para atmosfera, em relação a 2011.

Já as renováveis caíram para 38% do total da produção eléctrica, contra 46% em 2012, em parte por ter sido um ano seco, com menos água nas barragens, e em parte pelo avanço do carvão.

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