Uma das piores versões do Sporting atira a pressão para o lado do Benfica

No derby que encerra a 11.ª jornada, os dois rivais lutam por causas distintas. Os "encarnados" não querem perder terreno na luta pelo título, os "leões" vêem neste jogo o pretexto ideal para uma viragem de ciclo.

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O Sporting-Benfica encerra a 11.ª jornada da I Liga Patrícia de Melo Moreira/AFP

Atípico. Atípico é o mínimo que pode dizer-se do derby desta segunda-feira, em Alvalade, o 157.º da história do campeonato português de futebol. De um lado do relvado, andará um Sporting à procura da honra e da auto-estima perdidas. Do outro, um Benfica a correr atrás do FC Porto e do título nacional. Entre ambos, há 15 pontos de diferença na classificação, um número nunca visto na véspera do primeiro duelo da temporada.

É este fosso – e, essencialmente, a performance desportiva que o justifica – que transforma o jogo, num certo sentido, numa missão ingrata para os "encarnados". A paupérrima temporada que o Sporting tem vindo a fazer, o número historicamente baixo de golos marcados na Liga (9 em 10 jornadas), o facto de ter ganho apenas dois dos cinco jogos disputados em Alvalade e, o apontamento mais recente, as 48 horas de descanso a menos face ao rival redobram a pressão sobre o Benfica. Em teoria, por todas estas razões, a equipa orientada por Jorge Jesus surgirá em vantagem, monopolizando quase todas as expectativas.

O técnico dos "encarnados", cauteloso, relativiza a questão. "Num jogo do Sporting com o Benfica, não é a classificação que faz um mais favorito do que outro", avalia, admitindo, porém, que a pressão está mais do seu lado: "Vamos ter um Sporting mais tranquilo em termos emocionais e mais confiante, pois vai jogar com o Benfica e todas as situações individuais que não sejam favoráveis vão ser desculpáveis".

Ao comando dos "encarnados", Jorge Jesus – que confessa que "não esperava que o Sporting tivesse tantos pontos de desvantagem" – conheceu os três resultados possíveis em Alvalade, em jogos da Liga (0-0 em 2009-10, 0-2 em 2010-11 e 1-0 em 2011-12). Também por isso, antevê "um rival muito forte, muito motivado". "Vamos ter um dos jogos mais difíceis que o Benfica vai encontrar no campeonato, não tenho dúvida nenhuma", aposta.

A estratégia para o jogo, assegura, será a mesma de sempre, com a equipa a pressionar alto e a tentar comandar as operações desde o apito inicial. Resta saber com que jogadores o fará. Luisão e Enzo Pérez estavam ontem em dúvida, embora a sua recuperação fosse bem mais provável que a de Salvio. Quase certa na frente de ataque será a presença de Cardozo, que ficou no banco frente ao Barcelona, na quarta-feira. O paraguaio, de resto, tem um currículo muito preenchido frente aos "verde e brancos", com sete golos apontados, cinco no campeonato e dois na Taça da Liga.

Mas o melhor marcador da Liga 2011-12 não assusta Franky Vercauteren. O técnico belga coloca as duas equipas no mesmo patamar e divide a meio a lógica das probabilidades. "O jogo começa zero a zero, as hipóteses estão repartidas. Sei que não é apenas um jogo, sei o que é disputar um derby", reitera.

O terceiro treinador do Sporting na presente temporada mostra-se tão confiante quanto consciente da importância que o encontro tem para o clube: "Se olharmos para a classificação, o que normalmente não faço, percebe-se que o Sporting não pode perder mais jogos, sendo com o Benfica ou outro adversário".

Um triunfo sobre o rival pode contribuir, até do ponto de vista anímico, para uma viragem de ciclo. Até porque a vitória sobre o Videoton, no último jogo para a Liga Europa, já terá ajudado a desanuviar um pouco o ambiente e a reforçar os níveis de confiança. Por isso, para Vercauteren, o factor sorte pesa pouco: "A sorte procura-se", responde. "Estamos ao mesmo nível do Benfica, tudo é possível".

Números semelhantes
Se olharmos para a estatística no campeonato, as diferenças entre as duas equipas não são, de facto, muito evidentes. A principal clivagem surge no número de golos (9 contra 25), porque em quase todos os outros parâmetros há um equilíbrio relativo. Na verdade, o Sporting soma até mais remates que o Benfica (183 contra 159), embora tenha dificuldades em traduzi-los em oportunidades de golo (ver infografia).

Um jogador exímio no remate à baliza, mas que tem andado afastado dos relvados por lesão, é Marat Izmailov. O russo é a grande novidade da convocatória do Sporting para o derby, embora seja improvável a sua utilização no "onze" inicial. Ausente continua Stijn Schaars, ainda a recuperar de um traumatismo no tornozelo, sobrando uma vaga no meio-campo que poderá ser preenchida por Pranjic ou André Martins, as duas hipóteses mais fortes.

Jogue quem jogar, Vercauteren exige dinâmica, independentemente das nuances tácticas. Para o Sporting, que entrou para a 11.ª jornada como 9.º classificado, um triunfo pode ser o catalisador necessário para atacar, nas 19 rondas seguintes, um lugar de acesso à Liga dos Campeões. Para o Benfica, está em causa a recuperação imediata da liderança do campeonato, de braço dado com o FC Porto. Um dos objectivos vai ter hoje de ficar pelo caminho.

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