Um bando de “SoBs”: adeptos primeiro, clube depois

O Philadelphia Union compete na Major League Soccer desde 2010. Mas a sua principal claque é mais antiga.

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Os jogos em casa do Union têm sempre estádio cheio Facebook Philadelphia Union

Em inglês, a sigla “SoB” tem um significado depreciativo, “son of a bitch”, qualquer coisa como “filho da mãe” ou, se optarmos pela tradução vernácula, “filho da puta”. Em Filadélfia, tem outro significado. Os “SoBs” da maior cidade do estado norte-americano da Pensilvânia são os “Sons of Ben”, os “Filhos de Ben”. O Ben nesta história é Benjamin Franklin, considerado um dos pais fundadores dos EUA, e os seus filhos são uma claque de futebol que se formou bem antes de haver uma equipa profissional na cidade. Se não fossem eles, hoje o Philadelphia Union, que joga na Major League Soccer (MLS), não existia.

Filadélfia é uma das 12 cidades dos EUA com equipas nas quatro principais ligas desportivas (basebol, futebol americano, basquetebol e hóquei no gelo) e todas estas equipas (Phillies, Eagles, 76’ers e Flyers) já foram campeãs. Qualquer uma tem várias décadas de existência, o que não é o caso do Philadelphia Union, que existe apenas desde 2010, apesar da MLS se disputar desde 1996, e de Filadélfia ser considerado um dos maiores mercados de media do país.

Na década seguinte, a criação de uma equipa da MLS na cidade não passou de um rumor sem concretização, e, em 2007, um grupo de fanáticos de futebol, decidiu unir-se para acelerar o processo. A 17 de Janeiro desse ano, data do 301.º aniversário do nascimento de Ben Franklin, nasciam os “Sons of Ben”. Oito meses depois, este grupo já contava com 650 membros e tinha emblema, cânticos, camisolas e cachecóis. Não tinha era equipa e, com a perspectiva de a poder ter a curto prazo, organizava excursões a Nova Iorque para ver jogar os Red Bulls, ou a Washington para ver os DC United, numa espécie de treino de adepto.

Nesse ano, uma campanha para determinar o número de adeptos que estaria disposto a comprar um lugar anual para ver futebol em Filadélfia recolheu 2800 respostas positivas. A ideia de futebol profissional em Filadélfia foi deixando de ser uma miragem, ao mesmo tempo que este bando de “SoBs” crescia. Em 2008, a MLS oficializa a introdução de uma equipa em Filadélfia e, em 2009, os “SoBs” já eram 6500. Desde que a equipa se estreou em 2010, o recinto construído de propósito para a acolher está sempre perto da sua lotação máxima, com assistências a rondar os 18 mil espectadores — com o quinto estádio mais pequeno, o Union teve em 2014, entre 19 equipas (são 20 em 2015), a décima melhor média de espectadores e oitava taxa de ocupação.

A cumprir a sua quinta época na MLS, o Union, que conta com o defesa luso-canadiano Steven Vitória por empréstimo do Benfica, não tem tido grandes resultados desportivos, apenas com uma presença no play-off em 2011, e ocupando o nono lugar (em dez equipas) da Conferência Este – e o antepenúltimo lugar se juntarmos as duas conferências. Não que isso desmoralize os adeptos, que, em 2015, continuaram a encher o PPL Park, em Chester, um subúrbio problemático da cidade.

Os “Sons of Ben”, que entretanto já tiveram algumas dissidências – um desses grupos chama-se, claro, os “IllegitimateS” – até já mereceram honras de protagonismo num documentário de longa-metragem, também pelo trabalho filantrópico que desenvolvem, mas, sobretudo, por este extraordinário desafio às leis naturais do futebol, em que um clube geralmente tem de trabalhar para ter adeptos.

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos

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