Superioridade de Usain Bolt posta em causa

Atletas norte-americanos contra-atacam na velocidade

Foto
Bolt parece ter concorrência esta temporada BEN STANSALL/AFP

No final da passada semana deu-se o muito antecipado regresso do rei da velocidade no atletismo, Usain Bolt, às competições na Europa, após longa ausência. Só que, nos eventos que se seguiram, ficou demonstrado que o ataque à superioridade mundial que ele vem evidenciando desde 2008 vai ser formal. Melhor, trata-se de um contra-ataque, já que são os norte americanos, e curiosamente através dos dois mais tradicionais veteranos, que protagonizam esse desafio.

Usain Bolt voltou ao meeting de Ostrava fazendo encher o estádio e como sempre lá obteve a sua esperada vitória, perante um alinhamento mais ou menos discreto quanto a rivais. Fez 20,13s, deixando longe - embora não demasiado - o norte-americano Isahia Young (20,35s), com a pista molhada. Nas circunstâncias não se tratou de um tempo medíocre, mas de Bolt, que se mostrou ainda algo “preso” de movimentos, espera-se sempre mais. Aos quase 29 anos, o jamaicano não é já uma criança e tem feito uma gestão cautelosa com vista ao objectivo supremo de conquistar para o ano, no Rio de Janeiro, uma “impossível” tripla-dupla, ou seja, vencer em três Jogos consecutivos os 100 e 200 metros. Porém, e tendo que se poupar, melhor que ninguém, Bolt sabe que não pode dar-se ao luxo de passar 2015 em claro, sem competir ao mais alto nível, pois caso contrário 2016 significaria um reinício para ele e isso, normalmente, é fatal às aspirações de qualquer um. Bolt não verá, pois, os Mundiais de Agosto próximo, em Pequim, como o maior objectivo em si mesmo, mas precisa desses Mundiais para manter a locomotiva oleada.

Neste contexto, o que os norte-americanos fizeram dias depois da reunião de Ostrava é muito significativo. Em Eugene, Tyson Gay ganhou os 100m com 9,88s, passando a ser o terceiro mundial do ano, e Justin Gatlin venceu os 200 m com 19,68s, igualando o recorde pessoal e fazendo de longe o melhor tempo de 2015. Gatlin já antes, em Doha, assumira a liderança mundial da temporada nos 100m, com outro máximo pessoal, neste caso de 9,74s, que o confirma, para já, como o quinto mais rápido da história.

Portanto, os dois mais tradicionais rivais de Bolt estão aí para as curvas e para desafiarem o jamaicano, cuja superioridade sempre foi bastante mal digerida do lado dos norte-americanos. Não deixa de ser surpreendente que sejam estes dois homens, e não uma nova leva - que existe - de grandes velocistas dos EUA, quem assume a revolta contra o domínio do jamaicano. Ambos vêm de paragens por doping, mais antiga e muito mais longa a de Gatlin, mas recente e mais curta a de Gay. Gatlin cumpriu 33 anos a 10 de Fevereiro passado, Gay terá essa mesma idade a 9 de Agosto. Apesar da idade, ambos parecem mais motivados que nunca e certamente Usain Bolt irá evitá-los até aos Mundiais de Pequim. Depois se verá. No entanto, Gay e Gatlin terão ainda de passar o crivo das selecções norte-americanas, e nunca se sabe… Mas Bolt também terá os trials jamaicanos à espreita. O suspense vai decerto manter-se nestes próximos três meses.

Sugerir correcção
Comentar