Suleyman Koç, da prisão para a Bundesliga

Esteve preso por assaltar casinos e cafés, mas redimiu-se e joga no primeiro escalão do futebol germânico, ao serviço do Paderborn.

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Koç marcou o seu primeiro golo na Bundesliga frente ao Bayer Leverkusen Wolfgang Rattay/Reuters

Suleyman Koç era um rapaz que não sabia dizer que não. Era um jovem futebolista com sonhos de altos voos, mas a realidade foi mais forte. Quando um grupo de amigos do irmão lhe propôs juntar-se a um gang de assaltantes, Koç não disse que não e acabou preso. Tinha 21 anos e os seus horizontes encurtaram-se dramaticamente. Em quatro anos, Koç foi ao fundo e voltou à tona. Joga no Paderborn, antepenúltimo classificado da Bundesliga, e está orgulhoso por ser “um exemplo inspirador”, como dizia numa entrevista ao programa FIFA World Football. “Mas antes, era um perfeito idiota”, confessou.

Em 2011, Koç, actualmente com 25 anos, estava relativamente longe do sonho da Bundesliga. Actuava no modesto Babelsberg, da III Divisão, uma equipa de Potsdam, que não ficava longe da sua Berlim natal e mostrava talento como médio ofensivo. A 18 de Abril de 2011, tudo mudou. Koç foi preso devido ao seu envolvimento com o “Machetebande”, um grupo que fazia assaltos a casinos e cafés em Berlim. “Tinha muita dificuldade em dizer não e foi assim que acabei por conduzir o carro de fuga em seis assaltos. Na altura sentia-me mal e queria desistir, mas não conseguia”, recorda o futebolista.

Koç e cinco outros (um deles o irmão) foram considerados culpados, com o futebolista a ser condenado a uma pena de 45 meses na prisão. O seu destino foi uma cela de sete metros quadrados, onde passava quase todo o dia, apenas tinha direito a uma hora fora do cubículo. Mas contava com a benevolência dos guardas da prisão, que o deixavam treinar-se no relvado sintético que não estava aberto aos prisioneiros e lhe concediam acesso duas vezes por mês a uma sala com aparelhos de musculação e uma bicicleta ergométrica.

Ainda assim, não era o suficiente para manter a forma e, ao fim de um ano na cadeia, Koç pesava 106 quilos. Mas já estava em curso a sua história de redenção. Koç escreveu ao Babelsberg a mostrar arrependimento e a resposta do clube fez Koç acreditar que podia voltar a jogar futebol. Quando se mudou para uma prisão aberta, na Primavera de 2012, o clube ofereceu-lhe um contrato de um ano. “Se ele está arrependido do que fez, merece mais uma oportunidade”, disse, na altura, Thomas Bastian, presidente do clube. Koç aproveitou de tal forma a oportunidade que, em Janeiro de 2014, já um homem livre, subiu um degrau na hierarquia do futebol alemão, mudando-se para o Paderborn, que estava na II Divisão

A história da redenção de Koç coincide com a história de sucesso do Paderborn que, nessa mesma época, conseguiu uma promoção inédita à Bundesliga, com importante contributo de Koç, mas esta está a ser uma época difícil, em que o clube da Renânia do Norte-Vestfália luta para não descer. Koç é titular indiscutível e até já marcou um golo no campeonato, num empate (2-2) frente ao Bayer Leverkusen. “O futebol deu-me uma nova vida e os meus pais podem orgulhar-se outra vez de mim”, diz Koç, que colabora com a Bundesliga num programa para sensibilizar os jovens para evitarem uma vida de crime e violência: “Sinto-me melhor que nunca. Não sei onde a carreira de jogador me vai levar, mas o meu sonho já se realizou.”

Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos

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