Sporting de Espinho começou com os pés e destacou-se com as mãos

O opositor do Sporting na Taça de Portugal é um histórico e está a comemorar o centenário. Passou 11 épocas na Liga, mas é no voleibol que tem o palmarés mais rico de Portugal. Maia, Brenha ou António Leitão são referências.

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Jogo com o União de Lamas, no Estádio da Avenida, na época da subida à I Divisão (1973-74) DR
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O Sp. Espinho é recordista de vitórias no campeonato nacional de voleibol Fernando Veludo/nFactos

O Sporting foi uma prenda de aniversário especial para o Sporting de Espinho, que desde 1997, ano da última presença no escalão maior do futebol português, não joga oficialmente com nenhum dos três “grandes”. 2014 — que terá na recepção de hoje ao clube lisboeta, para a Taça de Portugal, um ponto alto — não é apenas mais um ponto na história do clube: é também o ano do seu centenário, comemorado no passado dia 11.

Cem anos dão para muita história. O Sporting de Espinho nasceu para a prática do futebol, a única modalidade sempre presente desde a fundação e que teve nas 11 temporadas na I Divisão, entre 1974 e 1997, os seus momentos de maior visibilidade. Mas a maior fatia da fama a nível nacional (e internacional) que possui é responsabilidade da sua secção de voleibol, que possui o melhor palmarés do país, completo com a única vitória de uma equipa portuguesa numa competição europeia. “A marca do voleibol do Sp. Espinho já vem de longe. Tem 18 títulos de campeão nacional masculino, um registo difícil de igualar”, sublinha, ao PÚBLICO, Jorge Teixeira, antigo jogador, treinador e director do voleibol dos “tigres”, mas também historiador do clube, com livros publicados sobre a sua história. “É a única equipa que participou em todas as edições do campeonato”, acrescentou.

O primeiro grande título dos “tigres” da Costa Verde surgiu em 1918, através do futebol, com a conquista da Taça de Honra da AF Porto. Em 1924-25, atingem a meia-final do Campeonato de Portugal. Exposta com orgulho na exposição dedicada ao centenário do Espinho, que é possível visitar até Janeiro, está a Taça Ribeiro dos Reis, conquistada em 1967. Então na II Divisão, o clube surpreendeu na final o consagrado Vitória de Setúbal e, contra todos os prognósticos, venceu por 1-0, no Estádio da Tapadinha, em Lisboa, perante cerca de 12.500 espectadores, “Conquista inesperada”, escreveu então o jornal A Bola acerca do desfecho na prova organizada pela FPF. O golo de Jardim acabou por significar um prémio de 1000 escudos para cada atleta espinhense. “Ganhar a terceira prova do calendário nacional foi histórico”, explica Jorge Teixeira.

O Espinho, apesar de não sair dos dos escalões secundários, era uma das equipas competentes do futebol português e, por isso, conseguiu finalmente o acesso à I Divisão em 1974, no ano da Revolução de Abril. “A subida marcou um antes e um depois no clube, porque deu um salto de estatuto que mudou muita coisa”, referiu Manuel Gonçalves, um jogador histórico do clube, capitão da equipa que conseguiu a promoção e participou depois na estreia na Liga.

O Estádio da Avenida (actual Comendador Manuel Violas) era um palco difícil para os adversários, por causa da capacidade do Espinho, mas também por, até 1983, ser pelado. “Os adversários não se mandavam tanto para o chão como agora, porque ficavam todos arranhados”, recorda o antigo defesa-central, agora com 65 anos.

Outro membro dessa equipa e também uma das grandes figuras do futebol dos “tigres” é João Carlos, recordista de jogos na I Divisão pelo clube, quase 180. “As subidas à I Divisão e as três épocas que passámos nesse escalão quando o treinador era o Manuel José são pontos altos da minha carreira”. O antigo médio-direito, presente em sete das 11 épocas dos “tigres” na I Divisão, marcou um golo ao Sporting, o adversário desta sexta-feira do Espinho, no campeonato de 1974-75, em Alvalade, que não evitou a derrota. “Fiz o 1-0, estivemos a ganhar até perto do fim, mas acabámos por perder 5-1. O Sporting era muito forte. Tinha o Yazalde e outras estrelas”.

Actualmente, a equipa está longe da ribalta. O clube está apertado financeiramente, o estádio degradado, razão pela qual o jogo desta noite será em Santa Maria da Feira, e o Espinho é último da sua série no Campeonato Nacional de Seniores.

Por outro lado, o voleibol, como sempre, continua entre os grandes. Criada em 1939, a secção é um dos motivos de orgulho da cidade. Em 1956-57, tornou-se o primeiro clube do Norte do país a conquistar o campeonato nacional. Walter Brandão, um dos jogadores desse título, tem uma história curiosa. “Era futebolista do Sporting, na equipa principal, e, simultaneamente, jogava voleibol no Espinho”, recordou Jorge Teixeira.

Em 2000-01, o Espinho tornou-se o único clube português a vencer uma prova europeia, depois de ganhar ao Ekaterinburg, da Rússia, na final da Top Teams Cup. Mais nenhum clube nacional atingiu uma final europeia de voleibol.

Miguel Maia e João Brenha, que passaram grande parte das carreiras no Sp. Espinho, embora tenham começado na vizinha Académica de Espinho, são outros dos motivos de orgulho do clube. Como dupla, conseguiram dois quartos lugares seguidos nos Jogos Olímpicos de 1996 e 2000, numa altura em que representavam, no indoor, os “tigres”.

Mas o Espinho não foi ou é só feito de futebol e voleibol. Tem um passado de clube ecléctico, destacando-se também, por exemplo, na natação e no andebol. E no atletismo ninguém esquece o já falecido António Leitão. Natural de Espinho, o medalhado de bronze nos 5000m nos Jogos Olímpicos de 1984 foi atleta do clube antes de sair para representar o Benfica.
 
Alguns momentos essenciais
1918: Triunfo na Taça de Honra da AF Porto (futebol)
1925: Vencedor da 1.ª edição do Campeonato Distrital de Aveiro (futebol)
1926: Inauguração do Campo da Avenida
1957: Campeão nacional de voleibol masculino pela 1.ª vez
1960: Campeão nacional de voleibol feminino na 1.ª edição do campeonato
1967: Triunfo na Taça Ribeiro dos Reis (futebol)
1974: Estreia na I Divisão de futebol
1980: António Leitão 3.º nos 1500m do Europeu de juniores
2001: Triunfo na Top Teams Cup (voleibol)
2002: Finalista vencido da Top Teams Cup (voleibol)

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