Só há liberdade para dizer bem no país que vai receber os Jogos Europeus

Falta um mês para o evento que vai reunir cerca de seis mil atletas em Baku, a capital de um país que está no fundo de muitas listas de liberdade de imprensa e respeito pelos direitos humanos.

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O Crystal Hall, pavilhão que vai receber as competições de andebol e de voleibol durante os Jogos Europeus TOFIK BABAYEV/AFP

Baku nem sequer chegou à fase de votação nos processos de candidatura aos Jogos Olímpicos de 2016 e 2020, mas a capital do Azerbaijão era o único candidato a receber a primeira edição dos Jogos Europeus. A votação em Dezembro de 2012 do Comité Olímpico Europeu não foi unânime, 38 votos a favor, oito contra e duas abstenções, o suficiente para o Azerbaijão conquistar a organização deste megaevento desportivo que terá o seu início daqui a um mês, a 12 de Julho. Mas há quem considere que tudo não passa de uma enorme manobra de propaganda do governo de um país que está num fundo de muitas listas de liberdade de imprensa e respeito pelos direitos humanos.

A Amnistia Internacional identifica, pelo menos, 20 prisioneiros de consciência, entre jornalistas, activistas e políticos da oposição, nesta antiga república soviética cuja grande riqueza são as suas reservas de petróleo e gás natural. “O objectivo dos Jogos Europeus e de outros eventos com grande projecção internacional é mostrar o Azerbaijão como um estado moderno e progressista, mas o seu registo em termos de direitos humanos mostra o contrário”, diz ao PÚBLICO Levan Asatiani, investigador da Amnistia Internacional, que notou uma tendência nos últimos dois anos de aumento da repressão a vozes contrárias ao regime liderado por Ilham Aliyev: “Foi ficando pior nos últimos dois meses, especialmente desde Agosto passado, em que foram presos alguns líderes da sociedade civil, incluindo das ONG mais proeminentes.”

Um relatório da Human Rights Watch também fala de uma deterioração do respeito pelos direitos humanos no país em tempos mais recentes. “O governo do Azerbaijão aumentou a sua repressão contra os seus críticos. As autoridades condenaram ou prenderam pelo menos 33 defensores de direitos humanos, activistas políticos e civis, jornalistas e bloggers, fazendo com que muitos tenham fugido ou país ou se mantenham escondidos. Também congelaram as contas bancárias de grupos independentes e dos seus líderes. Algumas organizações tiveram mesmo de encerrar as suas actividades”, escreve esta organização. Num relatório divulgado nesta semana, a ILGA-Europa coloca o Azerbaijão no último lugar, entre 49 países europeus, no ranking que mede como são respeitados os direitos de lésbicas, gays, bissexuais e transgénero.

A organização Repórteres sem Fronteiras, por seu lado, coloca o Azerbaijão no 162.º lugar (em 180 países) na sua lista anual que avalia a liberdade de imprensa – a Finlândia lidera este ranking, a Eritreia está em último. “Os media são controlados pelo governo e os que ainda se podem considerar como independentes estão em declínio acentuado. É difícil encontrar um jornal que seja muito crítico”, observa Levan Asatiani, acrescentando que esta situação situação se estende às redes sociais: “Nos últimos anos têm tentado controlar os bloggers. Alguns têm sido presos, assim como activistas políticos que são muito activos no Facebook.”

Para além destes Jogos Europeus, que irão receber cerca de seis mil atletas de 50 países entre 12 e 28 de Junho em 20 modalidades, Baku irá ainda receber nos próximos anos outros grandes eventos desportivos, como um grande prémio de Fórmula 1 em 2016, e quatro jogos da fase final do Euro 2020 de futebol (incluindo um jogo dos quartos-de-final), um torneio que se irá realizar em 13 cidades de 13 países diferentes. Estes Jogos Europeus têm um orçamento de 975 milhões de euros, que pagaram a construção de várias infra-estruturas, entre elas, o Estádio Olímpico de Baku, para além das viagens e alojamento para todos os participantes no evento.

A realização destes Jogos em Baku poderá ser um ponto de partida para que algo mude, segundo Asatiani: “Os activistas devem aproveitar os Jogos para colocar estas questões na ribalta internacional. Acreditamos que os jogos vão fazer com que aumente a pressão sobre o presidente Aliyev para que ele mostre boa vontade e faça mudanças a sério antes da cerimónia de abertura.”

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