Receitas de TV dificilmente beneficiarão espectadores na Premier League

Protesto de uma das falanges de apoio do Liverpool está em marcha. Arsène Wenger não acredita em redução de preços.

Foto
Phil Noble/Reuters

A revisão do preço dos bilhetes para os jogos da Premier League é uma discussão cíclica que promete continuar a alimentar os debates em Inglaterra. No ano passado, porém, as expectativas dos adeptos foram inflacionadas pelo meganegócio assinado pelos clubes, que lhes permitirá um encaixe milionário, a partir de 2016-17, à conta de um novo contrato de direitos televisivos. A julgar pela posição da direcção do Liverpool e pelas palavras do treinador do Arsenal, no entanto, os espectadores não serão uma das partes beneficiadas nesta equação.

Um estudo realizado em 2015 pela BBC mostrava, entre outros dados, que, em média, o bilhete mais barato para um jogo da Premier League custava 30 libras (cerca de 39 euros). O Arsenal ajudava a esticar esta média para cima, com o bilhete mais caro da competição (97 libras, cerca de 126 euros), enquanto o Leicester City, actual líder da prova, puxava o valor para baixo (22 libras, cerca de 28,5 euros), no outro extremo da tabela.

O elevado preço dos ingressos, de resto, tem sido constantemente denunciado pelos grupos de adeptos, especialmente aqueles que costumam apoiar as equipas nos jogos fora e que têm de juntar ao custo do bilhete as despesas habituais com viagens e refeições. Nessa perspectiva, o acordo com a Sky, que prevê uma injecção de 6.900 milhões de euros nos 20 clubes da Premier League ao longo das três próximas épocas, tem sido visto pelos espectadores como uma janela de oportunidade para congelar ou reduzir o preço do acesso aos estádios.

Ao que tudo indica, porém - e a julgar pela reacção de dois dos clubes que mais cobram aos adeptos -, os 2.900 milhões de euros que a competição vai receber a mais, face ao acordo anterior, serão canalizados para outras áreas, em particular para a aquisição de jogadores, como deixa antever Arsène Wenger, treinador do Arsenal.

"O que vai acontecer é que o valor dos passes dos jogadores vai subir e teremos de utilizar esse suplemento orçamental para comprar novos jogadores. Creio que a pressão para investir no mercado se tornará maior e não podemos forçosamente distribuir dinheiro por outras pessoas", argumenta o técnico francês, preocupado com a febre "consumista" do Extremo Oriente, com o campeonato chinês à cabeça.

E se, em Londres, o discurso de Wenger é um sinal de que não é de prever uma mudança de rumo por parte dos proprietários dos clubes, no caso de Liverpool já há uma espécie de guerra aberta entre a direcção e os principais grupos de apoiantes. Tudo por causa do plano de preços anunciado pelos "reds" para a nova bancada, que entrará em funcionamento na próxima época e permitirá aumentar a capacidade de Anfield de 45.500 para cerca de 59.000 lugares.

O clube anunciou nos últimos dias que 45% dos bilhetes (sem contar com os lugares anuais) serão disponibilizados a preços mais acessíveis e que os adeptos locais terão acesso a mais de 20.000 ingressos com preços que começarão nas 9 libras (11,7 euros), mas os grupos de apoiantes do Liverpool desmontam este argumento e mostram-se fortemente desiludidos com a decisão.

"Este anúncio deixa-nos muito desapontados, já que se trata de uma oportunidade perdida para o Liverpool fazer uma abordagem mais justa ao preço dos bilhetes", sustentam os membros do SoS (Spirit of Shankly), que fazem notar que os ingressos de 9 libras são válidos apenas para três partidas em toda a temporada e que se há uma redução para 45% dos ingressos isso significa que a maioria (55%) vai aumentar.

Particularmente chocante para os mais fervorosos espectadores de Anfield é o salto no preço do bilhete mais caro para a nova bancada, que será composta por três anéis: custava 59 libras (76,6 euros) e passará a custar 77 (100 euros). A reacção não se fez esperar e está já marcado para sábado, no encontro com o Sunderland, um protesto que visa chamar a atenção para o problema. Aos 77 minutos de jogo, os membros do SoS, juntamente com os do grupo Spion Kop 1906, prometem abandonar o estádio.

"Acreditamos que é correcto e que é justo baixar o preço dos bilhetes por forma a mantermos o nossos apoio e, subsequentemente, a atmosfera em Anfield", reforçam.

Sugerir correcção
Comentar