Direitos televisivos: Que fatia do bolo fica para os outros clubes?

Pistas para o que pode acontecer nas negociações dos direitos televisivos do futebol português, depois dos anunciados acordos milionários de Benfica e FC Porto.

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O FC Porto fechou um acordo que prevê, também, o regresso de um patrocinador principal às camisolas JACK GUEZ/AFP

São negócios com termos diferentes, mas fiquemo-nos pelo número redondo. Benfica, 400 milhões por dez anos com a NOS. FC Porto, 457,5 milhões também por dez anos com a Altice/Meo. Sporting ainda não anunciou qualquer acordo, mas estará a negociar por valores de grandeza aproximada. E como ficam os outros clubes que participam nas competições profissionais de futebol em Portugal? Como fica a sua capacidade negocial? Se parece claro que a negociação centralizada dos direitos televisivos ficou sem efeito, ainda haverá margem para os clubes de pequena e média dimensão negociarem em conjunto, mas também é certo que alguns já estão a negociar individualmente contratos de longa duração com os diferentes operadores.

Com a excepção do Benfica, que explora os seus jogos na Luz em canal próprio desde 2013-14 até ao final da presente época, após a qual entra em vigor o acordo com a NOS, todos os outros clubes têm acordos com a Olivedesportos até ao final da época 2017-18. Ainda haverá mais duas épocas e meia para negociar, mas muitos deles já estarão a negociar individualmente – o Jornal de Negócios noticiou recentemente que Boavista, Vitória de Guimarães e Belenenses estarão a negociar com a Altice – e também o União da Madeira, tal como revelou ao PÚBLICO o seu presidente Filipe Silva, também já tem uma proposta de um operador, sem no entanto dizer qual é.

Mas não é esta a solução que o presidente do clube madeirense defende. “O que eu defendo é que os clubes, com a excepção dos três ‘grandes’, do Sp. Braga e do V. Guimarães, estivessem a negociar em conjunto. Seria um bloco muito interessante e até podia conseguir valores muito superiores aos que individualmente algum de nós irá conseguir”, refere. Mas Filipe Silva não acredita muito na vontade dos clubes negociarem em conjunto: “Tentámos abordar a questão com alguns clubes e sentimos que o pulsar será cada um por si. Não nos vamos colocar fora dessa negociação. Em bloco, faria um encaixe financeiro superior, depois até fazer uma redistribuição, primeiro equitativa e, depois, em função dos resultados.”

Neste sentido, observa o dirigente, a Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) liderada por Pedro Proença ainda poderá ter uma palavra a dizer, apesar de considerar que “é uma utopia falar neste momento da possibilidade de centralização”. “A centralização dependia da vontade dos clubes em colocar os direitos nas mãos da Liga. Viu-se que essa não era intenção de alguns deles. Mas a Liga ainda pode tentar fazer uma centralização parcial em nome de alguns clubes”, refere.

De acordo com os contratos ainda vigentes, o FC Porto deverá receber cerca de 16 milhões anuais, com o Sporting a receber 15 milhões, de acordo com valores divulgados pelo jornal “A Bola”. Com três ou quatro excepções, os restantes clubes receberão cerca de um décimo destes valores. O que estes mega-negócios celebrados por Benfica e FC Porto mostram, defende Filipe Silva, é que os direitos televisivos estavam subavaliados. “Os valores estavam baixos, muito por falta da concorrência no mercado”, sustenta o presidente do União, frisando que os clubes de pequena e média dimensão têm de saber adaptar-se às circunstâncias, tendo em conta que as receitas dos direitos televisivos são a sua “tábua de sustentabilidade económica”: “Neste momento a procura é grande e os clubes mais pequenos têm de saber adequar-se, ouvir os players existentes no mercado e tomar a melhor decisão em função dos seus interesses.”

Na II Liga, os valores são de uma grandeza completamente diferente, em que cada um dos clubes recebe 300 mil euros por ano. Para António Fiúsa, presidente do Gil Vicente, estes mega-negócios, significam que as diferenças entre grandes e pequenos serão ainda maiores. “A II Liga é o parente pobre. Quando tudo apontava para a centralização e uma distribuição mais justa, está a acontecer o contrário, com os grandes a ficarem com o bolo todo. Acredito que muita água vai correr debaixo da ponte e não acredito que o futebol consiga viver só com dois ou três clubes”, diz ao PÚBLICO o presidente do clube de Barcelos, que ocupa actualmente o sétimo lugar da II Liga.

Fiúsa defende uma intervenção estatal na regulação dos direitos televisivos. “Terá de ser o governo, como aconteceu em Espanha, a tomar conta do negócio. É inadmissível que isto aconteça só em Portugal, quando todos os países da Europa tem a centralização”, refere o líder gilista, para quem é essencial os clubes pequenos e médios apresentarem-se unidos: “Passa por se unirem e exigirem aquilo que lhes pertence. Quando se unirem têm uma força, quer a nível de assembleias gerais da Liga, paralisação de campeonatos. Quando chegar a esse dia, as pessoas vão olhar com olhos de ver.”

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