Os leões vegetarianos da CAN

Um clube de futebol da Guiné Equatorial com um estranho nome que foi fundado por um activista espanhol.

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O Leones Vegetarianos FC conquistou a Taça da Guiné em 2014 DR

Há combinações que soam a contradição. Tartaruga com ninja, por exemplo. Como é que um réptil vagaroso e pouco ágil podia ser treinado nas artes de uma organização secreta do Japão especializada em assassínios, espionagem e sabotagem? Mas foi uma mistura bizarra q.b. para ser um sucesso na banda desenhada e no cinema. Outra combinação que parece uma contradição em termos: leão vegetariano. Pode um animal que é carnívoro por natureza ser vegetariano? Pode, se estivermos a falar de uma equipa de futebol da Guiné Equatorial fundada por um activista espanhol que não come carne.

Falar do Leones Vegetarianos Futbol Club é falar do seu fundador, Juan Manuel Rojas, andaluz de Granada, professor de educação física, antigo controlador aéreo e activista que tem corrido o mundo usando o futebol como “arma”. Rojas disse em tempos numa entrevista à agência EFE que tinha feito o curso de treinador de futebol com Vicente del Bosque, actual seleccionador de Espanha, mas o seu caminho foi outro. Passou a fazer parte de uma ONG e, em 2000, foi para Malabo, capital da Guiné Equatorial, antiga colónia espanhola, e lá criou um clube, o Vegetarianos.

“Cheguei à Guiné a 3 de Junho com sete bolas, 20 pares de botas e carregado de sonhos e esperanças. No dia dez já tínhamos 50 jovens connosco e no dia 28 inscrevemos o clube na III Divisão”, contava Rojas em 2012. Este missionário do futebol, como lhe chamou o El Mundo, foi, depois, para a Índia, onde também criou uma escola de futebol, mas acabou por ter alguns problemas com as autoridades locais, acusando-as, em 2007, de lhe terem roubado a escola, recorrendo até a agressões físicas. Rojas passou anos em manifestações diárias frente à embaixada da Índia em Madrid, incluindo greves de fome, e estará, nesta altura, na Argentina, com projectos humanitários semelhantes. O PÚBLICO tentou contactá-lo, mas não teve resposta.

Quanto ao Vegetarianos FC, atravessou algumas dificuldades económicas, mas encontrou em 2010 um patrono em Bienvenido Ateba Mangue, director financeiro de uma companhia aérea do país. Ateba tinha uma condição: queria mudar o nome. Se tirar o nome original estava fora de questão, as partes chegaram a um compromisso. O clube passaria a chamar-se Leones Vegetarianos FC. “Os jogadores gostavam do nome e queriam mantê-lo. Eu concordei, mas precisávamos de algo diferente. Ficou Leões Vegetarianos. Não duravam muito tempo na selva, pois não? Leões que só comem erva. Mas as pessoas comentam um nome como este. Queremos ser famosos”, contou Ateba ao site Goal.com.

O mundo só deu pela existência dos Leones Vegetarianos FC quando se conheceu a convocatória da Guiné Equatorial para a Taça das Nações Africanas deste ano, que o país, à última hora, concordou em receber depois da recusa de Marrocos, o anfitrião designado. Na lista dos 23 do técnico argentino Esteban Becker, que substituiu Andoni Goikotchea a três semanas do início da CAN, estão três Leões Vegetarianos, os defesas Dani Evuy e Diosdado Mble, e o avançado Ruben Dario — Mble, é, para já, o único que jogou na CAN, titular nos dois primeiros jogos da Guiné.

Depois da CAN, os Leões Vegetarianos, que venceram a Taça da Guiné em 2014, vão continuar na ribalta do futebol africano, já com encontro marcado em Fevereiro com os Dolphins, da Nigéria, para a primeira eliminatória da Taça da Confederação, uma espécie de Taça das Taças de África. O objectivo de serem famosos já está cumprido.

Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos

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