O pesadelo do Bournemouth teve um final feliz

Só um desastre épico roubará ao clube o sonho de estrear-se na Premier League. Há sete anos esteve para cair no quinto escalão.

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O treinador Eddie Howe Reuters

Matematicamente ainda existe uma possibilidade (muito) remota de o Bournemouth não ficar com a segunda vaga de subida directa para a Premier League. Mas é tão improvável que, após o triunfo de segunda-feira sobre o Bolton (3-0), os adeptos já celebraram como se os duelos da próxima época com Chelsea, Arsenal, Manchester City ou Manchester United fossem um dado adquirido. Quando falta uma jornada para a conclusão do Championship, o segundo escalão do futebol inglês, o Bournemouth é segundo com 87 pontos – mais três do que o Middlesbrough, mas com 19 golos de vantagem na diferença entre marcados e sofridos. Só uma hecatombe poderá adiar o sonho, sendo que os cherries entram na derradeira ronda a um ponto do líder Watford e ainda podem aspirar ao título.

A vitória sobre o Bolton, que deixou o Bournemouth com pé e meio na Premier League 2015-16, permitiu aos adeptos da casa respirar de alívio, invadir o relvado de forma pacífica e dar largas ao contentamento após uma longa temporada. Ter motivos para festejar é uma agradável surpresa tendo em conta o passado recente de dificuldades que o Bournemouth viveu. No início de 2008, o clube esteve a cinco minutos de ser dissolvido por causa das dívidas (valeu um cheque do actual presidente, Jeff Mostyn, que garantiu a sobrevivência dos cherries). Com o clube ainda sob administração judicial, a época 2008-09 começou na League Two (quarto escalão) e com uma penalização de 17 pontos na classificação. Mas a equipa deu a volta por cima e garantiu a manutenção no último jogo em casa. “Mesmo o maior optimista do mundo teria dúvidas que sobrevivêssemos, mas conseguimos. Se tivéssemos caído para o quinto escalão tinha sido a nossa morte. Foi um milagre. E o estímulo para aquilo que agora conseguimos”, lembrou Mostyn no final do triunfo sobre o Bolton.

É o próprio treinador quem descreve o Bournemouth como “um clube familiar”, sublinhando o papel dos adeptos na sobrevivência do emblema: “Meteram dinheiro do próprio bolso para manter o clube vivo. Não são eles que devem agradecer-me, eu é que devo agradecer-lhes”. Eddie Howe tem uma ligação umbilical ao clube, onde jogou. Uma série de lesões encurtou-lhe a carreira de futebolista, mas lançou-o como treinador. Começou no Bournemouth, depois passou pelo Burnley e regressou aos cherries em 2012. Agora, com 37 anos, liderou o Bournemouth no maior feito em mais de um século de história. “Tem sido um trajecto incrível. O clube estava de rastos há seis ou sete anos. Estar agora nesta posição... nem parece real”, admitiu.

Salvo um desastre bíblico, na próxima temporada o Bournemouth vai fazer a sua estreia no topo do futebol inglês. Ombrear com os gigantes será o próximo desafio dos cherries e sobreviver será todo um novo feito. Quem passou pelo que eles passaram está pronto para tudo.

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