O eclipse de Shikabala no Sporting

Egípcio chegou com pompa há sete meses mas cumpriu apenas 13 minutos pela equipa principal. Regresso ao Egipto está no horizonte.

Foto
O egípcio teve poucos minutos ao serviço do Sporting Sporting/DR

Na vida civil é conhecido como Mahmoud Abdel Razek Fadlallah, mas no futebol chamam-lhe Shikabala. Internacional egípcio, chegou ao Sporting rotulado de fora-de-série mas sete meses (e escassos 13 minutos pela equipa principal) depois, está mais perto de ir-se embora do que de afirmar-se na equipa “leonina”. O último sinal foi ter ficado fora do plantel inscrito na Liga dos Campeões, a juntar-se à ausência de minutos de jogo na presente temporada. O empresário do futebolista egípcio admite que Shikabala está na porta de saída, só que até isso pode complicar-se: uma proposta de empréstimo de um clube grego terá sido recusada e o cenário mais provável é o regresso ao Egipto e ao Zamalek.

“A uma hora do fecho do mercado, o Shikabala desligou o telefone e o agente dele no Egipto diz que o jogador não tem interesse em ir para lado nenhum e que queria ficar no Sporting. Ele pensava que ia ficar e que ia jogar. As pessoas [do Sporting] querem vê-lo fora dali”, disse nesta quarta-feira à Rádio Renascença o agente Paulo Faria, que tem trabalhado com o internacional egípcio. “Há a possibilidade de o Shikabala regressar ao Zamalek, mas as coisas não estão muito fáceis”, acrescentou, lamentando o comportamento do futebolista.

Para Manuel José, treinador com larga experiência no futebol egípcio, essa solução pode não ser a adequada para Shikabala. “Voltar para o Zamalek será um retrocesso. Esteve seis meses a treinar, a jogar na equipa B... um jogador que é uma estrela no país dele. Agora vão mandá-lo de volta para o Egipto. Não percebo. Que o jogador tem talento, isso não há dúvidas nenhumas que tem”, disse o técnico ao PÚBLICO, considerando que o internacional egípcio nunca teve verdadeiras oportunidades em Alvalade.

Shikabala foi a contratação que animou o período de transferências de Inverno da época anterior: as negociações foram complicadas e duraram até ao último instante (escreveu-se que a inscrição só foi formalizada sete segundos antes do fecho do mercado), mas o futebolista acabou por assinar um contrato com a duração de quatro épocas e meia e uma cláusula de rescisão de 45 milhões de euros. “Realizei um grande sonho e estou num dos maiores clubes da Europa”, dizia a 1 de Fevereiro, citado pelo site oficial dos “leões”.

O egípcio foi apresentado no dia seguinte, mas Leonardo Jardim mostrou-se cauteloso: “Terá um período de adaptação, ainda não está no seu melhor. Acredito que só jogará daqui a três ou quatro semanas”. A adaptação em termos tácticos e de intensidade de treino não foi fácil, mas duas semanas depois Shikabala fez a primeira aparição com a camisola do Sporting: foi titular pela equipa B frente ao Tondela, mas só esteve 27 minutos em campo, sendo precocemente substituído por lesão.

A maldição do número 7
Só na última jornada da I Liga Alvalade viu Shikabala pela primeira vez: entrou aos 77’ para o lugar de Diego Capel no jogo contra o Estoril. Durante o Verão as palavras dos responsáveis “leoninos” eram de confiança: “Shikabala terá um papel importante no Sporting, pois toda a gente confia nas suas capacidades”, dizia o director de futebol profissional do clube, Augusto Inácio.

Mas essas capacidades nunca se confirmaram. No início de Agosto, numa deslocação do Sporting ao Egipto para disputar um jogo de preparação, Shikabala ficou detido por falta de documentação relativa ao serviço militar obrigatório. “Ele não pediu o papel e já sabia que ia ficar no Egipto dois ou três dias, de férias”, acusou Paulo Faria. Resolvido o imbróglio, de regresso a Lisboa, publicou nas redes sociais uma fotografia com Slimani e Rojo, dupla que na altura estava sob a alçada disciplinar do Sporting.

Shikabala já entra no que alguns adeptos do Sporting descrevem como a “maldição” da camisola 7. O egípcio é o mais recente exemplo de uma linhagem de futebolistas que, após Figo, não foram felizes com esse dorsal: Sá Pinto, Iordanov, Leandro Machado, Delfim, Niculae, Izmailov, Bojinov, Jeffren e agora Shikabala. “Tudo na vida é um risco”, afirmou Bruno de Carvalho sobre a contratação do egípcio, citado no livro "O presidente sem medo", editado em Maio. E acrescentava: “Pode ser tudo aquilo que a sua cabeça e o seu talento deixarem, porque o Sporting conseguiu libertar um ser humano enquanto atleta. Pela primeira vez pode estar focado na sua actividade apenas”. Só que só se viram 13 minutos.

Sugerir correcção
Comentar