O 33.º título tem muito do 33.º presidente

Numa época de apostas de risco (renovação de Jorge Jesus e Benfica TV), Luis Filipe Vieira conquistou o seu terceiro campeonato.

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Paulo Pimenta

A 26 de Maio de 2013, o mundo desabou para o Benfica. Vinte dias depois de o Estoril empatar no Estádio da Luz, duas semanas após Kelvin marcar no minuto 92 e menos de 300 horas a seguir ao Chelsea derrotar os “encarnados” em Amesterdão, as “águias” perderam a Taça de Portugal frente ao V. Guimarães, no Estádio Nacional. Consequências? Oscar Cardozo “atirou-se” a Jorge Jesus, a maioria dos adeptos esqueceu o bom futebol praticado até Maio, Luís Filipe Vieira passou a ser o alvo de todas as pressões. Com o treinador em final de contrato, o que iria fazer o presidente do Benfica? A resposta chegou nove dias depois: contra (quase) tudo e contra (quase) todos, Vieira renovou com Jesus por mais dois anos.

Nas redes sociais, nos fóruns e nas conversas de café, o presidente do Benfica foi crucificado pela maioria dos benfiquistas e ridicularizado pelos adeptos rivais por renovar contrato com um treinador que tinha acabado de perder tudo em três semanas. E as críticas dos contestatários aumentaram de tom em Agosto. Após derrotas nos dois últimos jogos de preparação, o Benfica estreou-se no campeonato com um desaire frente ao Marítimo, no Funchal. Com a equipa em claro colapso emocional após o traumatizante final de temporada anterior, a descrença apoderou-se dos adeptos “encarnados” e o tapete parecia fugir irremediavelmente a Jesus, mas Luís Filipe Vieira respondeu poucos dias depois à derrota na Madeira com uma entrevista à Benfica TV. E não deixou dúvidas sobre o apoio ao técnico: “Se há pouco tempo era um herói e todos eram unânimes de que era o treinador certo para o Benfica, porque deixou de o ser agora?”

Para justificar a confiança sem reservas em Jorge Jesus, Vieira lembrou o “erro” que cometeu quando despediu Fernando Santos logo após um empate com o Leixões na primeira jornada da época 2007-08 e que, segundo o líder benfiquista, resultou na “pior época desportiva enquanto presidente do clube”. A isso, juntou uma acérrima defesa ao técnico: “Crescemos bastante com Jesus e ele também evoluiu bastante connosco, por isso não podemos cortar este ciclo de um momento para o outro, seria terrível. Se a equipa e o treinador sentirem apoio, têm qualidade suficiente para ganhar em qualquer campo.”

Cerca de oito meses depois, com a vitória de frente ao Olhanense e a confirmação de que o 33.º título nacional já não foge ao Benfica, já ninguém questiona a arriscada decisão do 33.º presidente dos “encarnados” de segurar Jorge Jesus quando todos pareciam não ter dúvidas que os benfiquistas caminhavam para mais uma época de fracassos.

Mas as opções de risco de Luís Filipe Vieira não se ficaram pelas escolhas para o plantel. Abrindo uma clara frente de batalha contra a Olivedesportos, que detinha o monopólio das transmissões televisivas em Portugal, o presidente “encarnado” apostou alto na Benfica TV e os números que o canal do clube começa a obter parecem validar a via seguida por Vieira. Para além do aparente sucesso financeiro, no primeiro ano de transmissão dos jogos dos “encarnados” na Benfica TV, o clube sagrou-se campeão.

Reeleito para um quarto mandato a 26 de Outubro de 2012, com 83,02% dos votos, no 10.º ano à frente do Benfica, Vieira viu desaparecer dois dos maiores símbolos do clube (Eusébio da Silva Ferreira e Mário Coluna), tendo ainda perdido a sua mãe, que faleceu no dia em que as “águias” garantiram o apuramento para a final da Taça de Portugal. No entanto, o “ano 10” de Luis Filipe Vieira na liderança do Benfica ficará também marcado por ter alcançado uma proeza que nenhum outro presidente desde Fernando Martins tinha conseguido: vencer três títulos de campeão nacional.

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