Lippi: o homem que fez regressar a Itália aos triunfos deixou de ser treinador

O italiano ganhou o campeonato chinês e anunciou que sente-se velho para continuar a treinar.

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O Guangzhou Evergrande conquistou o 4.º título seguido, o terceiro com Lippi AFP

O homem que conduziu a selecção italiana ao triunfo no Mundial 2006 anunciou que abandona de vez os bancos. Marcello Lippi sente-se “demasiado velho” para continuar a treinar, mas abandona a profissão com mais um título, o de campeão chinês, no currículo. O italiano, de 66 anos, vai continuar ao serviço do Guangzhou Evergrande, mas agora como director-desportivo.

“Não falta muito para ter 67 anos. Estou cansado de dar treinos todos os dias e de dar ordens no banco durante os jogos. Estou demasiado velho para treinar”, explicou o agora ex-treinador. Para trás fica uma carreira recheada com os títulos que nunca conseguiu enquanto jogador.

O mais marcante foi o Mundial 2006. Depois de vencer a prova em 1982, a Itália esteve muito tempo sem obter uma medalha de ouro numa grande competição. Esteve perto nalgumas ocasiões, mas não conseguiu dar o passo final. Foi terceira no Mundial de 1990, segunda em 1994 e ainda vice-campeã europeia em 2000. Faltou sempre qualquer coisa, até que Marcello Lippi foi nomeado seleccionador em 2004 e conseguiu reunir as tropas para arrecadar um título que parecia improvável, numa altura em que o futebol italiano era abalado pelo maior escândalo de corrupção da sua história.

“Vivi sempre o Mundial como espectador na TV e não como protagonista. Agora, espero ser um protagonista”, disse antes do arranque da competição na Alemanha. A coroa de glória de Lippi foi, mais do que tudo, um esforço de equipa. Os 12 golos da Itália na prova foram marcados por dez jogadores diferentes. O italiano tornou-se assim o primeiro treinador a conseguir ganhar a Liga dos Campeões e o Mundial, feito imitado depois pelo espanhol Del Bosque.

A defesa do título, quatro anos mais tarde, foi um dos pontos baixos do homem natural de Viareggio, cidade costeira na Toscana. A squadra azzurra não conseguiu escapar ao último lugar num grupo com Nova Zelândia, Eslováquia e Paraguai, mas a sua marca já estava garantida: o Mundial 2006 continua a ser a única prova que a Itália conquistou após 1982. “Para lá das suas habilidades técnicas e tácticas, Lippi tem uma capacidade que não vi noutros treinadores: ele consegue realmente retirar 120% de ti”, disse, certo dia, o guarda-redes Gianluigi Buffon.

Mas mesmo sem esse título, Lippi já seria uma referência mundial pelo que obteve na Juventus, clube em que atingiu o pico na modalidade como treinador, depois de uma carreira relativamente discreta como jogador. Após actuar quase uma década como defesa-central na Sampdoria e de pendurar as chuteiras no modesto Lucchese, estreou-se como técnico nas camadas jovens do clube de Génova em 1982. A sua primeira oportunidade na Série A ocorreu com o Cesena, em 1989. O apuramento para a Taça UEFA com o Nápoles, em 1993-94, chamou a atenção dos grandes de Itália e a Juventus acabou por contratar para a época seguinte o homem que, em Itália, dizem ser parecido com o actor Paul Newman.

Na Juve, Lippi, em dois ciclos diferentes, ganhou cinco campeonatos, uma Taça, quatro Supertaças e ainda três títulos internacionais, todos em 1996, uma Liga dos Campeões, uma Supertaça Europeia e uma Taça Intercontinental. Nas oito temporadas que esteve ao serviço da Vecchia Signora, levou a equipa a quatro finais da Champions, das quais só ganhou uma, e a uma da Taça UEFA.

Em 2012, saiu pela primeira vez de Itália, para comandar o Guangzhou Evergrande, na China. Em três épocas, venceu sempre o campeonato doméstico e, em 2013, juntou ao currículo o título de campeão da Ásia de clubes. É, por isso, o único treinador que venceu a Liga dos Campeões europeia e asiática.

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