Futebol uruguaio numa crise sem precedentes devido à insegurança nos estádios

Governo decidiu retirar a polícia dos principais recintos de Montevideu e a direcção da federação de futebol apresentou demissão. FIFA vai investigar ingerência política.

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Selecção uruguaia pode ver-se impedida de participar no Mundial do Brasil STR/AFP

O futebol uruguaio está a atravessar uma das piores crises dos últimos tempos, que já levou à demissão dos órgãos dirigentes da Associação Uruguaia de Futebol (AUF) e ao adiamento de vários jogos do campeonato.

A liderança da AUF apresentou a demissão em bloco na segunda-feira, três dias depois de uma reunião entre o presidente da federação, Sebastián Bauzá, o presidente da República, José Mujica e os responsáveis pelos dois principais clubes de Montevideu, o Peñarol e o Nacional e da qual saiu a decisão de adoptar o Código Disciplinar da FIFA, que prevê a retirada de pontos para as equipas cujos adeptos se envolvam em actos violentos.

Mujica decidiu, entretanto, retirar o policiamento dos estádios da capital, o Centenário e o Parque Central, que recebem os jogos das duas equipas mais populares daquele país sul-americano. A posição do Governo surge como resposta aos episódios de violência entre adeptos.

Ainda na última quarta-feira, um grupo de apoiantes do Nacional envolveu-se em distúrbios depois de um jogo contra os argentinos do Newell’s Old Boys, para a Taça Libertadores.

No domingo, o jogo entre o Peñarol e o Miramar foi suspenso pela AUF, depois de queixas por parte da Mutual de Futebolistas Profissionais de que “as condições de segurança não foram cumpridas”. Tal como havia anunciado o Governo, a polícia só garantiu a segurança dos árbitros e dos vendedores de bilhetes.

Os membros do conselho executivo da AUF apresentaram a demissão na segunda-feira de manhã, por considerarem que “os factos que tiveram lugar nos últimos tempos demonstram a necessidade de se retirarem para permitir que outros pontos de vista políticos possam governar o futebol”, de acordo com a AFP.

Nas últimas declarações aos jornalistas, o presidente demissionário da AUF, Sebastián Bauzá, justificou a sua saída pela falta de “governabilidade no futebol”. “Vários clubes retiraram-nos a confiança”, acrescentou, citado pelo site Espectador.com.

Mundial em risco
Os momentos conturbados vividos pelo futebol uruguaio podem afectar a própria selecção, quando faltam pouco mais de dois meses para o início do Campeonato do Mundo do Brasil. A FIFA está preocupada com os desenvolvimentos em Montevideu e enviou uma nota à Conmebol (que dirige o futebol sul-americano) para que averigue se existiu uma ingerência directa do Governo de Mujica.

Caso se confirme a intervenção política no processo, o Uruguai pode ser alvo de um processo disciplinar por parte da FIFA e até ver-se impedido de participar no Mundial. O presidente uruguaio considera que essa possibilidade não passa de “fogo-de-artifício”. “Não acho que a FIFA tenha alguma coisa a ver com isto, porque nós não interferimos com o futebol, interferimos com as bancadas”, afirmou Mujica, citado pelo jornal uruguaio El País.

Entretanto, os três jogos do campeonato uruguaio previstos para esta terça-feira foram suspensos pela AUF, entre os quais o encontro entre o Peñarol e o Miramar, que já tinha sido adiado.

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