Harbaugh contra Harbaugh

Partilharam um quarto durante 18 anos e agora vão defrontar-se no Super Bowl. San Francisco 49ers e Baltimore Ravens, treinados por Jim e John Harbaugh, vão disputar esta noite a final da NFL.

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O Super Bowl vai ser um assunto da família Harbaugh Christian Petersen/Getty Images/AFP

"Gostaria que terminasse empatado. A NFL pode permitir isso?". Não, infelizmente para Jackie Harbaugh, a NFL não aceita empates no Super Bowl. A final deste domingo (23h00, SportTV e ESPN America) da liga de futebol americano dos Estados Unidos, um dos grandes espectáculos do mundo desportivo, terminará com um vencedor, por muito que a matriarca da família Harbaugh não tome partidos. Pela primeira vez na história dos quatro grandes desportos colectivos nos EUA, os treinadores principais dos dois finalistas são irmãos. John Harbaugh lidera os Baltimore Ravens. Do outro lado do relvado sintético do Mercedes-Benz Superdome, em Nova Orleães, o seu irmão mais novo, Jim Harbaugh, comandará os San Francisco 49ers.

"Qualquer pessoa que tenha um irmão com uma idade tão aproximada sabe o que é uma rivalidade entre irmãos. Cresce-se a lutar por tudo. Luta-se pelo último cachorro quente. Luta-se por raparigas. Luta-se por tudo e por nada", admitiu John, o mais expansivo dos Harbaugh. Agora, os irmãos que nasceram com uma diferença de um ano e três meses em Toledo, Ohio, têm outra coisa por que lutar: o troféu Vince Lombardi, o Santo Graal do futebol americano. "Não há dúvida que é muito emocionante jogar contra o meu irmão", explicou Jim. "Mas eu também penso nos meus jogadores como meus irmãos".

Como muitas crianças norte-americanas, John e Jim sonharam um dia estar no Super Bowl, mas nunca como treinadores adversários. "Tivemos os nossos jogos imaginários no quintal. Nunca fomos treinadores, posso garantir. Éramos o quarterback e o receiver", referiu John, que, tal como o irmão, cresceu em várias cidades norte-americanas acompanhando a carreira do pai Jack, um experiente treinador de futebol americano a nível universitário. Anos depois, os dois protagonizam a história mais marcante do Super Bowl 47, ao ponto de esta final ter ganho oficiosamente várias alcunhas, como "Har Bowl" ou "Bro Bowl", relacionadas com os dois homens que partilharam um quarto durante 18 anos.

Como jogador, Jim foi o que esteve mais perto de actuar no Super Bowl. O mais novo dos Harbaugh, depois de ter sido uma estrela universitária, foiquarterback durante 14 épocas na NFL e em 1996 liderou os Indianapolis Colts até à final de conferência.

Segundo Jim, que considerou John o melhor técnico dos dois, o facto de os Ravens serem comandados pelo seu irmão não significa maiores dificuldades no planeamento do jogo. "Estou preocupado com muitas coisas, mas não me apercebi que ele tenha poderes de vidente". De qualquer modo, os dois já se defrontaram em Novembro de 2011, num jogo da temporada regular, com a vitória (16-6) a pertencer a John e aos Baltimore Ravens. Mas não haverá apenas um braço-de-ferro entre irmãos, mas também um duelo entre pai e filho. Jay, o filho mais velho de Jim, é actualmente treinador-estagiário sob as ordens do tio John nos Ravens, um dos clubes, de resto, que Jim representou enquanto jogador.

Com estas ligações familiares, John sublinhou que, no final deste Super Bowl, que costuma ser o programa televisivo mais visto do ano nos EUA, "não haverá perdedores". Mesmo que, ao contrário do que sucede na época regular - ainda que raramente -, um empate não seja uma opção.

Defesas fortes

Além da novidade fraternal, este Super Bowl será o primeiro em que nenhum dos finalistas perdeu, alguma vez, uma final. 49ers e Ravens estão de regresso ao jogo do título depois de alguns anos de ausência. No caso da equipa de San Francisco, a única que nunca foi derrotada no Super Bowl entre aquelas que já contam mais do que uma presença, existe um incentivo extra para vencer: um triunfo, que seria o sexto, permite-lhe igualar os recordistas Pittsburgh Steelers. Durante os anos 80 e 90, o clube californiano foi um dos grandes dominadores da modalidade, disputando nove finais de conferência e cinco Super Bowls, mas há quase 20 anos que não se qualificava para o encontro decisivo.

Para os Ravens, esta será apenas a segunda aparição no Super Bowl. Na primeira, em 2001, derrotaram os New York Giants num jogo em que olinebacker Ray Lewis foi eleito MVP. Depois de 17 temporadas sempre passadas em Baltimore, o jogador mais carismático da equipa reforma-se neste jogo. Juntamente com Paul Kruger, Dannell Ellerbe, Terrell Suggs, Ed Reed, Cary Williams ou Haloti Ngata faz parte de uma defesa temida que ajudou os Ravens a superar, nos play-offs, os favoritos Denver Broncos, de Peyton Manning, e New England Patriots, de Tom Brady. O quarteback Joe Flacco, com oito touchdowns e nenhuma intercepção nos play-offs, está a jogar a grande nível, assim como os wide receivers Anquan Boldin e Torrey Smith. Pelo chão, o mais perigoso continua a ser Ray Rice.

O grande pilar dos 49ers também é a defesa, uma das melhores da liga. Patrick Willis é o chefe, mas os outros linebackers (Aldon Smith, NaVorro Bowman e Ahmad Brooks) também foram seleccionados para o Pro Bowl, o jogo das estrelas. Dashon Goldson, Donte Whitner e Justin Smith também são protagonistas na organização defensiva da equipa. Mas o jogador mais falado de San Francisco nos últimos tempos joga no ataque. O quarterback Colin Kaepernick começou a época a suplente, mas aproveitou uma lesão de Alex Smith para ganhar o lugar. As duas dimensões de Kaepernick (combinação do braço poderoso com a capacidade para correr com a bola) têm feito dele uma arma difícil de conter. Contra os Green Bay Packers, somou 181 jardas a correr, um recorde num jogo para um quarterback na história da NFL. Michael Crabtree e o tight end Vernon Davis foram dois dos três alvos prioritários no ataque dos 49ers. O outro, Mario Manningham, está lesionado.

Fora do jogo, também há estrelas garantidas: Alicia Keys vai cantar o hino norte-americano, enquanto o espectáculo de intervalo estará a cargo de Beyoncé.
 

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