Eu aposto na integridade

1. Respondendo a amável convite participei, na segunda-feira, num seminário organizado pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, sobre a manipulação de resultados desportivos, realidade conhecida, na língua inglesa, por match fixing.

O seminário, constatei, apresentava dois grandes objectivos. O primeiro passava por tomar conhecimento dessa patologia do desporto moderno, que afecta, a nível internacional, diversas modalidades desportivas, quando associada às apostas desportivas. Coube a um grupo de investigadores estrangeiros, tal apresentação. O segundo visava dotar esse trabalho de investigação da situação vivida em Portugal, incluindo o grau de sensibilização para essa matéria.

2. Já por mais de uma vez dedicámos espaço, nesta coluna, a esta temática. Façamo-lo uma outra vez, em face da relevância – diria ainda urgência – do que está em causa.

Diga-se, desde já, no que respeita aos objectivos do seminário, que se o primeiro foi alcançado, já quanto ao segundo o número e valor dos dados portugueses foi diminuto, o que espelha bem a situação em que nos encontramos. Mas, visto por outro prisma, também tal desiderato se conquistou. Ou seja, não há registos de investigação criminal, não há registos de processos, não há – ou pouco há – infracções disciplinares direccionadas. Estamos, pelo menos oficialmente, no grau 0,001.

3. A prevenção e o combate à manipulação de resultados desportivos, com a especial ligação às apostas desportivas (online) apresenta-se, nos dias que correm, em diversas configurações, alcançando diferentes agentes desportivos – com especial incidência no praticante desportivo – e localizando-se em várias modalidades desportivas. O futebol assume, todavia, uma posição de “recinto” privilegiado para as redes e associações criminosas envolvidas.

De todas as latitudes surgem exemplos, alguns dos quais bem devastadores da imagem do desporto.

4. Por outro lado, já o afirmámos, a manipulação dos resultados desportivos disputa já os primeiros lugares do ranking das manifestações antidesportivas.

Num tempo em que, não se sabendo ainda o modelo a adoptar, Portugal se prepara para regular as apostas desportivas online, a questão redobra de pertinência.

5. Já vivemos algo assim e há muito tempo.

O paralelo surge-nos inevitável. Com efeito, o fenómeno da violência no desporto sempre foi visto – e a minha memória alcança a década de 80 do século passado – como algo que, em bom rigor e em toda a sua extensão, não tinha exemplos significativos em solo pátrio. Dessa leitura comungou o Estado e os seus serviços. A "coisa" cá não tem a gravidade que adquire em outros países. Em certa medida – pelo menos da pouca eficácia das medidas legislativas – esta cultura vem-se mantendo.

Ora, quando agora olho para a manipulação dos resultados e vejo a insensibilidade reinante, ocorre-me precisamente essa narrativa amolecedora e, no fundo, permissiva.

6. Continuo a dizer: ganhe-se tempo com o nosso atraso, mesmo quando ele se precipita na “demora” da chegada do mal.

Para já, registo a palavra-chave das imprescindíveis e urgentes acções de prevenção e sancionamento: eu aposto na integridade. josemeirim@gmail.com

 

 

 

 

 

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