As minhas claques são piores que as tuas

1. Por onde começar ao abordar um tema que me irrita, causa náuseas e do qual tenho, assumidamente, uma overdose desde 1991?

Creia o leitor que não me é fácil alinhar algo sobre a violência, sobre as claques, sobre a cumplicidade dos clubes com esses “grupos organizados de adeptos” (?), a sua utilização como braço armado desses mesmos clubes, com o laxismo dos poderes públicos, forças de segurança incluídas, e com um dilúvio de lágrimas de crocodilo que irradia da imprensa, do Estado, dos dirigentes dos clubes e de tantos “formadores de (má) opinião”.

Para quê dizer algo se tudo ficará, passado algum tempo, na mesma, e daqui a umas jornadas, voltarmos a repetir o mesmo filme?

A violência no futebol é uma espécie de Canal Hollywood onde os filmes se repetem sem parar, mas que muitos vêem sem enfado.

2. Esta semana iniciou-se um novo derby que, ao contrário daquele que ocorreu no recinto de jogo, vai perdurar para além de 90 minutos. Este encontro já não tem como protagonistas os treinadores e os jogadores, nem vai ser arbitrado pelo agente de arbitragem e seus auxiliares. Com efeito, os treinadores foram substituídos pelos dirigentes, os jogadores por normas do Regulamento Disciplinar da Liga e a equipa de arbitragem é composta pela Secção Profissional do Conselho de Disciplina da FPF e pelo auxiliar Comissão de Instrução e Inquéritos da LPFP. Por outro lado, antes do derby jogado, houve ainda tempo para um "aquecimento" no derby de futsal.

3. O que está, e atrevo-me a dizer apenas está, em discussão, é apurar quem é o mais violento, quem tem as claques mais duras, mais agressivas.

À falta de melhor, sem que ninguém – nenhum dos clubes agora em disputa e todos os outros – ouse colocar termo a essa realidade delinquente – pelo menos no que respeita aos seus núcleos duros -, discute-se agora – veja-se o absurdo – quem tem os adeptos mais perigosos.

Isto é, ao invés dos clubes – estes e os outros – darem um firme sinal conjunto para erradicar tais grupos do seu seio, digladiam-se, em novo derby, procurando imputar ao adversário a actuação mais grave.

Nem uma palavra firme sobre o fim das claques, sobre o retirar de apoios – às “legalizadas” e às outras. Nada disso. Nesse ponto não se toca. As claques são, é certo o que afirmo, intocáveis, façam o que fizerem a terceiros e somente se pressente um ar de crítica quando elas se viram para dentro dos próprios clubes que as sustentam das mais variadas formas.

4. Se as equipas alcançam um empate no recinto de jogo, a verdade é que, abstraindo agora das consequências disciplinares que lhes venham (ou não) a ser imputadas, uma coisa permanece certa para todos os tempos, passados, presentes e futuros: subsistirá sempre um empate, nos apoios que os clubes dão a essas organizações criminosas e ainda na actuação destas.

Mas, não obstante este resultado, sairá sempre derrotado o futebol e o desporto, por mais Planos de Ética Desportiva e Provedores de Ética que se criem, para pouco ou nada fazer, como cosmética ou botox aplicada à face do desporto.

josemeirim@gmail.com

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