Arnaud Démare, o homem que afastou o adepto do boxe

Nacer Bouhanni não deixa ninguém indiferente. Seja pela sobrancelha cortada, elemento que denuncia a sua paixão pelo boxe, seja pelo sorriso provocador, que combina com tiradas polémicas, ou pelos sprints irresistíveis, o ciclista da FDJ é a nova personagem do ciclismo francês. A combustão que usa para ser o mais rápido – e que lhe valeu a conquista da classificação por pontos no último Giro – é a mesma de que se serve para criar conflitos por onde passa. O mais evidente, aquele que o deixou de fora deste Tour, é o que alimenta há anos com Arnaud Démare.

Mais discreto e polido, o outro sprinter da FDJ é o “queridinho” dos directores da sua equipa que, na impossibilidade de convívio entre as novas estrelas francesas da velocidade, optaram pelo menos brilhante dos dois – dizem que o vencedor de três etapas na última Volta a Itália é o quarto melhor sprinter da actualidade.

A história conta-se em poucas linhas. Bouhanni (1990) e Démare (1991) são produto da mesma geração. O talento levou-os a competir desde juniores. De prova em prova, de entrevista em entrevista, a rivalidade cresceu. Démare foi campeão do mundo de sub-23 em 2011 e mereceu um contrato na Française de Jeux. Com o lugar de sprinter da equipa ameaçado, Bouhanni respondeu à altura, sagrando-se campeão nacional em 2012, à frente do seu rival.

O tom das palavras entre os dois endureceu, enquanto um e outro iam festejando vitórias aqui e ali, e atingiu o expoente máximo este ano, com os dois a repetirem incessantemente que queriam estar na Volta a França e a atacarem-se, sem modéstias.

O suspense prolongou-se. Um ano antes, Bouhanni tinha sido o eleito, mas caiu e abandonou logo na primeira semana. Seria este o ano da estreia de Démare? No momento decisivo, o director Marc Madiot, que nunca escondeu a sua preferência, escolheu o menos explosivo (em todos os sentidos). A decisão dividiu a França e, dizem, a FDJ. Havia uma única forma de contornar a contestação e Démare sabia-o. Era preciso ganhar no frente a frente. Único ringue possível: campeonatos franceses de ciclismo. Arrancaram ambos para a prova em linha com esse peso extra no corpo. No único round do combate a dois, ganhou Démare. Com a camisola tricolor vestida, estava justificada a selecção para o Tour.

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