Costuma dizer-se que não devemos voltar a um local onde fomos felizes. Não é o caso do Ronaldo. Não é verdadeiro para o Ronaldo. O Ronaldo, no Manchester, viveu a continuidade da fase de crescimento que começou no Sporting.

É uma excelente escola, a do Manchester, de futebol colectivo que pouco tem alterado no que diz respeito ao seu ADN. Permite condições únicas de desenvolvimento harmonioso e a isso não é alheio o facto de ter um grande treinador há muitos anos. É uma escola, definitivamente, e o Ronaldo foi um aluno exemplar. Aproveitou-a da melhor maneira, a ponto de atingir níveis de rendimento extremamente elevados, de excelência.

Depois deu um passo na carreira e rumou ao Real Madrid. É curioso que, em Inglaterra, o seu rendimento em termos individuais esteve abaixo do que apresenta no Real Madrid, mas em termos colectivos foi muito superior. O Ronaldo, hoje, leva o Real Madrid às costas, o que é um absurdo para um clube com a dimensão do Real. 

Isto espelha bem a diferença de realidades entre Inglaterra e Espanha. A própria definição da gestão do Real Madrid é diferente da do Manchester. O colectivo do Real não contribui para que os resultados [individuais] sejam mais elevados. Mesmo neste contexto, Ronaldo continua a subir de rendimento, atingindo números e parâmetros excepcionais. Continua a fazer história em nome dele e do Real Madrid.

Mas Ronaldo não esquece o seu passado. E, sinceramente, não vejo hipocrisia nenhuma na forma como o Manchester e os seus adeptos planeiam recebê-lo. Ronaldo deixou bem vincado o nome dele e não vejo que haja quem o ponha em causa. Quando muito, pode haver uma tentativa de sedução.

Octávio Machado
ex-treinador de futebol