Odegaard é o caso mais recente da arriscada aposta em talentos precoces

Investimento em jovens promessas menores de idade é muitas vezes um tiro no escuro, marcado por sucessos, mas também por muitos dissabores: do “fenómeno” Ronaldo ao fracasso chamado Freddy Adu.

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Martin Odegaard na apresentação no Real Madrid Andrea Comas/Reuters

Alvo da cobiça dos grandes colossos do futebol europeu, o norueguês Martin Odegaard escolheu o Real Madrid para prosseguir a sua precoce carreira ao mais alto nível. E nem se pode dizer que a equipa espanhola tenha cometido uma loucura para a contratação do jovem de 16 anos ao modesto Stromsgodset, por perto de três milhões de euros. Uma ninharia face aos recordes que os merengues já gravaram no mercado de transferências. Este é o último caso de um investimento num promissor futebolista ainda menor, numa história marcada por alguns sucessos, mas também por muitos fracassos.

Os valores envolvidos na contratação de Odegaard acabam por ser relativamente modestos face ao recorde estabelecido em 2006 pelo Arsenal na contratação de um jogador, na altura também com apenas 16 anos, no caso Theo Walcott. A equipa de Londres pagaria perto de 12 milhões de euros ao Southampton pelo avançado, que leva já dez temporadas ao serviço dos gunners.

Reconhecidos pelas frequentes incursões que fazem no mercado de futebolistas adolescentes, os arsenalistas passaram a ter maior concorrência nos últimos anos, nomeadamente em Inglaterra. Mesmo assim, continuam a ser fortes a sinalizar e contratar algumas das mais promissoras pérolas deste desporto. E são muitos os exemplos, como o caso do espanhol Cesc Fàbregas, contratado ao Barcelona, em 2003, com apenas 16 anos, a troco de 3,7 milhões de euros.

Mais tarde, chegariam ao clube o galês Aaron Ramsey, de 17 anos (contratado por 6,4 milhões de euros ao Cardiff City, em 2008), o inglês Alex Oxlade-Chamberlain, de 17 anos (13,8 milhões de euros ao Southampton, em 2011) e, já esta temporada, o polaco Krystian Bielik, também de 17 anos (3,7 milhões de euros ao Legia Varsóvia).

Mas não seria o Arsenal a ficar na história inglesa como o clube que mais rendimentos iria tirar de um investimento em jovens promessas. Esse epíteto caberá, merecidamente, ao rival Tottenham que, em 2007, arriscou quase 17 milhões de euros para convencer o Southampton a soltar o passe de Gareth Bale, de 17 anos. Seis anos depois, as expectativas estavam confirmadíssimas e a pérola dos londrinos iria protagonizar aquela que continua a ser uma das mais caras transferências na história do futebol, a rondar os estratosféricos 100 milhões de euros.

Entre estas histórias de sucesso, destaca-se também a contratação do brasileiro Ronaldo pelos holandeses do PSV Eindhoven ao Cruzeiro de Belo Horizonte, por perto de seis milhões de euros. O talentoso avançado, então com 17 anos, que iria ficar conhecido no mundo do futebol com o cognome de “Fenómeno”, seria transferido dois anos depois para o Barcelona por 20 milhões de euros.

Existe depois a outra face da moeda: as desilusões. Ou, pelo menos, aquelas jovens promessas sobre quem recaíram expectativas exacerbadas que não conseguiram corresponder. Um destes casos foi o de Alexandre Pato, contratado pelo AC Milan ao Internacional de Porto Alegre, em 2007, por 25 milhões de euros, numa das maiores transferências de sempre do futebol brasileiro.

O atacante ainda confirmou o seu potencial nas primeiras épocas ao serviço dos italianos, que rejeitariam várias propostas milionárias para a sua contratação, mas um conjunto de lesões afastou-o da ribalta, acabando por regressar ao Brasil, em 2013, contratado pelo Corinthians por 15 milhões de euros. Aqui não conseguiu impor-se, foi alvo de duras críticas dos adeptos (e até tentativas de agressão), acabando por ser emprestado ao São Paulo, onde permanece, aos 25 anos.

Bem mais infeliz seria a história do norte-americano (de origem ganesa) Freddy Adu, que chegou a ser nomeado por Pelé como o seu potencial sucessor. Com apenas 14 anos, tornou-se no mais novo futebolista de sempre a assinar um contrato profissional nos EUA, a jogar na MLS (a principal campeonato local) e a apontar um golo na prova. Tudo ao serviço do DC United. Com 17 anos, transferiu-se para Real Salt Lake, pouco antes de rumar ao Benfica, a troco de dois milhões de euros.

Nunca iria confirmar as esperanças depositadas em si pelos “encarnados”, acabando por ser emprestado a vários clubes (Mónaco, Belenenses e Aris Salónica), sem grande destaque, antes de regressar aos EUA, em 2011, pela mão dos Philadelphia Union. Em 2013 experimentou o futebol brasileiro, ao serviço do Bahia, mais uma vez sem sucesso, acabando por voltar à Europa, treinando em vários clubes, sem que lhe fosse oferecido um contrato. Esta época assinou pelos sérvios do FK Jagodina, por seis meses, mas alinhou apenas numa partida e acabou dispensado. Está actualmente sem clube.

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