Tinha 14 anos, morreu com cancro e foi congelada, a seu pedido

Uma adolescente britânica conseguiu que um tribunal aceitasse o seu pedido para ter outra oportunidade de vida, nem que seja daqui a centenas de anos.

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A adolescente passou os últimos meses de vida num hospital RUI GAUDENCIO

Uma adolescente de 14 anos conseguiu que um tribunal de Londres lhe concedesse o direito de ser congelada. A menina, que sofria de uma forma rara de cancro, dirigiu-se ao tribunal quando já se encontrava em fase terminal. A decisão do juiz Peter Jackson foi tomada a 6 de Outubro. Ela morreu a 17 e o seu corpo seguiu dias depois para um instituto de criogenização nos Estados Unidos.

O caso só foi divulgado nesta sexta-feira porque a adolescente, que também solicitou o anonimato, pediu que nada viesse a público durante um mês. “Tenho apenas 14 anos e não quero morrer mas sei que isso vai acontecer. Acredito que o facto de ser conservada por criogenia me dará uma oportunidade de ser tratada, mesmo que tal aconteça daqui a centenas de anos”, escreveu ela numa carta dirigida ao juiz e que está a ser citada pelas agências noticiosas internacionais.

Peter Jackson explicou que decidiu a seu favor por respeito da vontade e direitos da adolescente, frisando que não se tratou de uma decisão sobre a criogenização.

Diferendo familiar

Nunca o foi desde o início porque na base do pedido da adolescente esteve um diferendo familiar, já que os pais, divorciados, não conseguiram chegar a acordo sobre o destino do corpo.

A oposição partiu do pai, que manifestou apreensão em relação ao preço do projecto (43 mil euros segundo o jornal Times) e às consequências deste. “Mesmo que o tratamento resulte e ela regresse à vida dentro de 200 anos, não terá ninguém próximo junto dela e poderá nem se lembrar de nada”, argumentou.

A adolescente vivia com a mãe em Londres. O diagnóstico de cancro chegou em 2015. Pouco tempo depois, em Agosto passado, comunicaram-lhe que a doença era fatal. O tratamento a que estava a ser sujeita foi suspenso, mas ela continuou internada no mesmo hospital em que morreu. Passou os últimos meses de vida a fazer pesquisas online sobre as técnicas de criogenização. Conta o jornal The Telegraph que optou pelo pacote mais económico oferecido por uma das três instituições que actualmente se dedicam à criogenia.

“Não é surpreendente que este pedido tenha sido o único a chegar até agora aos tribunais deste país e provavelmente de outros”, sublinhou o juiz, que o apresentou também como um “exemplo das novas questões que a ciência coloca à lei”. Peter Jackson elogiou também a coragem da adolescente.

Para esta, contou a sua advogada, o juiz tornou-se o seu herói. Devido ao seu estado não conseguiu comparecer na audiência em que o seu pedido foi julgado, mas a seu pedido Peter Jackson foi visitá-la logo no dia seguinte ao da decisão.

O corpo da adolescente entrou no instituto de criogenização a 25 de Outubro. Está imerso em azoto líquido, numa câmara de congelação que é controlada por computador. Neste edifício situado no Michigan, EUA, há outros 100 corpos que aguardam por uma vida mais além no tempo, mas os responsáveis do instituto, lembra a AFP, têm avisado que não podem garantir o sucesso neste processo.

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