A lei como um pacto invisível

Mais um livro editado recentemente pela Assembleia da República. É Catarina Sobral quem assina o texto e a ilustração. Tema: lei.

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“Temos um pacto: a lei” Catarina Sobral
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“Há quem não concorde com as leis, justamente” Catarina Sobral
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“As leis são imaginadas por muita gente” Catarina Sobral
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“Inventámos este pacto para vivermos em grupo (sem grandes balbúrdias)” Catarina Sobral
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“A realidade muda, a ideia de justiça também. Por isso, fazem-se novas leis e mudam-se as antigas, todos os dias” Catarina Sobral
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Cada ilustrador desenhou, desenhará em cada livro-álbum a forma como vê o Parlamento Catarina Sobral
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Capa do livro Fantasmas, Bananas e Avestruzes, editado pela Assembleia da República Catarina Sobral
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Integrado na colecção Missão: Democracia, a assinalar os 50 anos do 25 de Abril, Fantasmas, Bananas e Avestruzes parte da ideia “de que as leis são imaginadas”, diz ao PÚBLICO Catarina Sobral. E acrescenta: “Imaginadas de duas maneiras: primeiro, antes de existirem, para que ocorra uma mudança (e aí é imaginada por muitas pessoas); e depois de existirem, para que funcionem, para que possamos viver em sociedade ‘sem grandes balbúrdias’. Aí é imaginada por todas as pessoas.”

A ilustradora considera que esta “é uma ideia bonita, de comunidade, de pluralidade, de partilha de um pacto invisível acordado secretamente”.

No livro pode ler-se: “Temos um pacto: a lei. Inventámos este pacto para vivermos em grupo (sem grandes balbúrdias).”

No entanto, “um dos riscos que esta ideia trazia era a de comunicar que a lei é sempre justa”. Então, tentou “sempre um compromisso entre o que diz o texto em discurso indirecto, a imagem e os diálogos, e nesta tríade convocar quem lê a construir o significado”. Parece ter conseguido, já que o leitor é convidado a reflectir e a encontrar um sentido para o que é exposto nas diferentes linguagens em presença.

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“Há quem não concorde com as leis, justamente” Catarina Sobral

A autora de títulos como Greve, Achimpa, O Meu Avô ou Palmiras, Pantaleões ou Malaquias (Orfeu Negro) conta como teve “praticamente carta branca para abordar o tema” que lhe calhou nesta colecção: a lei, descrevendo assim o seu pensamento em cada novo trabalho: “Aquilo que procuro, sempre que escrevo um livro, é criar um espaço de liberdade para quem lê: com textos e imagens suficientemente permeáveis para que as crianças possam interpretar, inventar, criar a partir das suas experiências, brincar, rir. Tenho a convicção de que a melhor forma de o conseguir é através da síntese (reduzir texto e imagem ao essencial), da metáfora e do humor.”

Neste livro, “ao invés de usar um dispositivo metafórico para ser o veículo da história”, fez o contrário. “Usei a lei como metáfora para contar aquilo que queria contar: que a imaginação é o motor da mudança.” Por isso, nas páginas finais lembra: “Antes das leis, existem as ideias. Podem ser imaginadas por nós ou por representantes que elegemos nas eleições.”

Faltou a punição

A vencedora do prémio de melhor jovem ilustradora para a infância em 2014 (atribuído pela Feira do Livro Infantil de Bolonha) revela que ficou de fora deste livro “o que acontece se fugirmos ao pacto”. Numa das primeiras versões, experimentou incluir “a questão da punição”, mas sentiu que “não ia conseguir fazê-lo bem, em tão pouco espaço”. Optou então por deixar “um cartaz abolicionista na imagem da manifestação”.

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“Há leis para assuntos triviais... e para problemas extraordinários” Catarina Sobral

Catarina Sobral teve como preocupação maior “mostrar a ideia de pluralidade”. E dá-nos conta de outras escolhas no seu processo criativo: “Para não ser repetitiva nas imagens (que mostram, sobretudo, pessoas), escolhi variar os pincéis (digitais) e o número de cores por página, para imprimir algum ritmo.” Correu bem. Esperemos que o pacto se cumpra.

Este é o volume 4 de uma colecção que terá um total de 12. O próximo que se dará a conhecer na rubrica Letra Pequena será Dita Dor, com texto e ilustração de António Jorge Gonçalves.

Com este conjunto de obras, a Assembleia da República “pretende pôr à disposição dos cidadãos mais novos publicações actuais e graficamente atractivas, orientadas para a exploração dos valores maiores que representa e defende e que possam perdurar no tempo”. Também assim se espera.

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