República e democracia, uma amizade em construção
Isabel Zambujal transforma a república e a democracia em duas meninas. Junta-as a amizade, sempre em construção.
Neste primeiro volume da colecção Missão: Democracia, editada pela Assembleia da República, Isabel Zambujal cria uma narrativa em que nos conta o nascimento da república e a sua consolidação, a par do seu relacionamento com a democracia.
A autora escolheu personificá-las em duas meninas que se correspondem por carta. A primeira que República escreve à sua amiga data de 5 de Outubro de 1910 e começa assim: “Querida Democracia, podemos gritar Vitória! Portugal deixou de ser uma monarquia. Vou escrever uma nova história para o país e sublinhar palavras como Liberdade, Justiça e Fraternidade.”
Isabel Zambujal conta ao PÚBLICO que não hesitou em aceitar este projecto, cuja lista de títulos lhe foi apresentada pela curadora da colecção, Dora Batalim SottoMayor: “Nasci no dia 5 de Outubro e a minha filha a 31 de Janeiro. Somos republicanas de nascença.” Foi a 31 de Janeiro de 1891 que houve a primeira tentativa, no Porto, de derrotar a monarquia.
O maior desafio para este trabalho foi chegar a uma forma de apresentar “com clareza o que realmente mudou na vida dos portugueses”. Algo que não encontraram nos vários títulos publicados para os mais novos sobre este tema. “Foram mudanças de importância extrema em áreas como a educação, desporto, direitos dos trabalhadores e das famílias, liberdade de imprensa, moeda, símbolos…”
Também era preciso “encontrar uma ideia em que as conquistas objectivas da república fizessem parte de uma história aliciante para os miúdos”. Uma delas foi o desenvolvimento das actividades desportivas, que deixaram de ser exclusivas das elites.
“Modalidades como a natação, futebol, atletismo ou ciclismo tornaram-se populares. Abriram clubes desportivos por todo o país e a disciplina de Educação Física passou a ser obrigatória. Em 1912, Portugal participou pela primeira vez nos Jogos Olímpicos.”
Cartão postal: “Olá, Democracia! Já estamos nos Jogos Olímpicos! E eu sou a melhor a saltar obstáculos para que o desporto conquiste os portugueses. Não achas que merecia um lugar no pódio?”
Uma dupla feliz e eficaz
A concepção deste título fez-se em parceria com o ilustrador Bernardo P. Carvalho: “Trabalhámos em dupla desde as primeiras ideias. Durante todo o processo, reunimos quatro ou cinco vezes. E bastavam uma ou duas horas para acertar o conteúdo das páginas, esclarecer dúvidas, afinar caminhos.”
Optaram por os relatos da menina República surgirem em diferentes formatos, “carta, postal, notícia, página de diário, álbum...” e acreditam que “a diversidade, além de prender a atenção do leitor, enriquece a narrativa e o grafismo”.
A meio do processo, recorda Isabel Zambujal, partilharam o caminho escolhido com “Dora Batalim SottoMayor e a equipa da Assembleia da República, Maria Teresa Paulo, Sara Ludovico e Rui Costa, consultor científico deste título, que contribuiu com preciosas informações sobre o tema”. Foi aceite.
A escritora nasceu em Lisboa, em 1965. Em 2001, lançou a colecção Um Saltinho a…, “livros de viagens que a transportaram para o universo da literatura infanto-juvenil”. Muitos outros se lhe seguiram. Ainda bem.
Bernardo P. Carvalho nasceu em Lisboa, em 1973. Fundou a editora Planeta Tangerina em 1999 e desde então “começou a coleccionar prémios de ilustração”. Merecidos.
A colecção Missão: Democracia já tem cinco livros-álbuns publicados, num total de 12 programados.
Ao longo das próximas semanas, e porque festejamos a democracia, iremos divulgar nesta rubrica alguns desses títulos, que, segundo os responsáveis, pretendem “suprir uma lacuna existente no mercado relativamente a livros deste segmento, ou seja, obras que tratem, por um lado, conceitos abstractos como ‘democracia’ ou ‘liberdade’ e particularizem, por outro, instrumentos democráticos como ‘lei’ e ‘eleições’”. Uma boa ideia e até agora bem executada.