O futuro Ministério da Agricultura

O próximo Ministério da Agricultura precisa de gente capaz, com peso político, conhecimentos do setor e coragem.

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Caros leitores, proponho-vos o seguinte exercício: imaginemos que a personalidade escolhida para o cargo de ministro(a) da Agricultura e Alimentação (ou outro nome que se dê a este ministério) não tem competência técnica na área nem nenhuma ligação anterior ao setor. Fica a questão: poderá este(a) governante ter sucesso?

Tenho feito a experiência de colocar esta pergunta a dezenas de amigos e conhecidos e, até agora, todos consideraram, unânimes, que não é possível obter resultados sem competência técnica nem experiência e conhecimento da área política tutelada!

Lanço-vos o desafio de percorrerem o seguinte caminho crítico, respondendo às seguintes questões:

  1. Pode-se aplicar, na gestão política de um ministério, as técnicas de “alta direção”? Ou seja, um governante que não domina uma temática deve fazer o levantamento dos melhores especialistas na matéria e auscultá-los, de forma separada, sobre as vantagens e inconvenientes de soluções e estratégicas?
  2. No fim do processo de auscultação, o responsável político terá forte probabilidade de estar capacitado para tomar melhor decisão do que outro colega que já dominava a problemática?
  3. Pode ter sucesso um ministro que tem uma equipa de gabinete composta por jovens, que têm muito tempo disponível para trabalhar fora do horário normal e para deslocações contínuas e muito frequentes, com ligações às juventudes partidárias, que servem de “controleiros” dos responsáveis da máquina partidária, inexperientes politicamente ao nível do funcionamento e ação de gabinetes ministeriais?
  4. Os secretários de Estado que têm por função ajudar o ministro, sem experiência política, mesmo sendo altos quadros do ministério ou professores universitários, que valor acrescentado trarão ao chefe de equipa?
  5. Um Ministério da Agricultura mais esvaziado de estruturas e entidades a tutelar pode ser um lugar apetecível para uma personalidade do setor, poderá este considerar que poderá ter sucesso como ministro(a) e conseguir aplicar as suas políticas?

A resposta à questão 1 só pode ser positiva. Um ministro(a) sem experiência do setor e sem conhecimentos específicos deve ouvir, aconselhar-se, pedir a opiniões de diversos especialistas em áreas como o agronegócio, a agricultura familiar, as políticas agrícolas da União Europeia, os fundos comunitários, os apoios ao financiamento de projetos agrícolas, a floresta, etc… Só tem a ganhar com isso. O seu sucesso, depois, dependerá da forma como aproveitar politicamente essas opiniões para fazer vingar as suas políticas. Um ministro(a) com peso político é, pois, necessário no Ministério da Agricultura no próximo Governo.

A questão 2 é mais difícil e complexa. Tendencialmente, acho que sim. O que irá valer, neste caso, é o peso político que tiver junto do primeiro-ministro e no Conselho de Ministros. Isso fará toda a diferença!

A resposta à questão 3 é imediata, não precisa de grande reflexão: Não! A coisa pública é muito importante. Não se pode andar a brincar aos gabinetes ministeriais com o preenchimento dos lugares por gente que nunca falou com um agricultor. O próximo Ministério da Agricultura precisa de gente capaz, com peso político, conhecimentos do setor e coragem. A agricultura é um dos motores da economia nacional.

Questão 4: entre a teoria e a prática, vai uma grande diferença. O ideal é que os secretários de Estado reúnam competências teóricas e práticas. Se assim não acontecer, prefiro um governante mais prático do que teórico.

Questão 5: Sim. Um ministério com menos estruturas e entidades para tutelar pode acompanhar mais de perto os assuntos e problemas e conseguir que a sua estrutura administrativa operacional dê resposta em tempo útil aos processos burocráticos que lhe são colocados.

Conclusão: uma personalidade política com insuficiências técnicas na área que tutela pode ter sucesso no seu cargo, se for capaz de gerir através das ações de “alta direção”, se for dialogante, souber ouvir e tiver coragem de fazer rupturas, se tiver uma equipa com um “misto” de técnicos e políticos.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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