A pandemia policial e a violência no futebol

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1. Nos últimos dias – semana – assistiu-se de tudo um pouco quanto ao policiamento de jogos de futebol, e de todas as proveniências surgiram reacções, mais ou menos, acaloradas. Os protestos dos elementos das forças policiais geraram, como é sabido, a ausência do policiamento adequado em alguns jogos, agora com dificuldades de agendamento. Segundo as notícias, um dirigente desportivo terá adiantado que “não pode ser a PSP a decidir se há futebol ou não”. Para outro agente desportivo, neste caso treinador, a ausência de policiamento, “poderá complicar aquilo que é o calendário, mas do outro lado está um sector em protesto e temos de estar solidários com um sector que é muito importante na nossa sociedade. Não seria bom viajar para os Açores e não podermos jogar. Temos um calendário muito preenchido com Liga dos Campeões também. Temos de respeitar o protesto de alguém que sente que não tem aquilo que merece”.

2. São as forças de segurança um elemento fundamental para os espectáculos desportivos, designadamente para o futebol?

A resposta a esta questão leva-nos a cavar mais fundo e levantar previamente uma outra demanda: vive o futebol um clima (cultura mesmo) de violência?

Começando pela última, dir-se-á que o futebol vive com uma violência endógena – no jogo, cada jogo, resultado também das leis do jogo que possibilitam o contacto físico – e com uma violência exógena, assente no comportamento dos adeptos, com expoente máximo na maioria das claques. E muito do que se vive no primeiro patamar projecta-se no segundo. É como se estivéssemos perante uma fuga de água entre andares.

3. Esta postura dos apoiantes, fundamentalmente a partir da década de 80 do século passado, tendo em conta o impacto no todo societário, tem gerado crescente atenção dos poderes públicos, mesmo a nível internacional, nem sempre precipitada em medidas adequadas e eficazes. Mas a verdade, oferece-nos a realidade, é que estamos perante um fenómeno social de massas, potencialmente – e efectivamente em muitos casos – gerador de violência, muito particularmente no futebol.

3. Se estamos correctos nesta leitura, o futebol que temos – não só em Portugal - tem de viver (necessariamente) enquadrado pelas forças de segurança.

Voltemos atrás: são as forças de segurança, na actualidade, um elemento fundamental para os espectáculos desportivos, designadamente para o futebol? Lamentando contrariar voz muito amiga, a resposta só pode ser afirmativa.

4. E se estamos certos nesta leitura há que tentar conciliar direitos e pretensões (reivindicações dos agentes de segurança e direitos e expectativas dos organizadores) não afectando o essencial dos mesmos - como tudo no Direito e na vida. E neste campo, o jogador principal só pode (tem de) ser o Governo.

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