A que soa a liberdade? Começa a recolha da memória sonora do 25 de Abril

Sons serão digitalizados pelo Arquivo Nacional do Som a ser sediado em Mafra.

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A comissária Maria Inácia Rezola Nuno Ferreira Santos
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A campanha “A que soa a liberdade?” é esta quinta-feira lançada pela Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril e pelo Arquivo Nacional do Som para a recolha da memória sonora da Revolução de 1974 e anos seguintes ou com eles relacionados.

“As imagens que ilustram o 25 de Abril e os meses da revolução mostram-nos um país em ebulição, com multidões na rua, um enorme dinamismo de artistas, partidos, comissões e associações”, diz a historiadora Maria Inácia Rezola, comissária das comemorações.

“Os registos sonoros dessa época são uma parte relevante da memória que temos o dever de preservar e de passar às novas gerações, recordando-lhes o valor da liberdade e da democracia”, refere.

Assim, o objectivo desta campanha é recolher as gravações produzidas durante os anos de 1974/75 ou relativas à revolução, que serão digitalizadas pelo Arquivo Nacional do Som, sendo fornecida ao proprietário uma cópia digital do seu documento sonoro.

“Nos anos 70 [do século passado], os registos sonoros podiam ser feitos com relativa facilidade”, afirma Pedro Félix, coordenador da estrutura de missão do arquivo a ser sediado em Mafra junto ao palácio nacional, em finais de 2025. “Por isso, estamos certos que muitas pessoas terão vindo para a rua documentar o que estava a acontecer”, admite.

De manifestações a comícios, de noticiários de rádio e televisão à leitura de comunicados, de concertos a performances de rua, são múltiplas as gravações de sons como foram diversas as iniciativas naquele tempo. Mesmo nos momentos mais conturbados do PREC [Processo Revolucionário em Curso] e do denominado “Verão Quente”, os sons são fundamentais como fontes do que se passou.

“Tal como antes se enviavam mensagens em cassetes para os familiares que estavam na guerra ou em França, terão sido gravadas cartas e relatos de eventos ocorridos naquele período”, exemplifica. “São todas essas gravações que nós procuramos, para que não se percam, para que não fiquem esquecidas, para garantir a sua salvaguarda e preservação”, insiste Pedro Félix.

“Já fizemos o inquérito nacional para identificação de espólios sonoros em que contactámos cinco mil entidades que tinham documentos”, conta.

“Muitos sons de Abril encontram-se dispersos, não são do conhecimento público e poderão ser peças fundamentais para conhecer e sentir melhor aquele período”, conclui a comissária Maria Inácia Rezola.

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